Ricos hábitos
Há práticas, serviços e coisas de que gostamos, às quais somos fiéis e que não trocamos por nada. Coisas de que nos habituámos a usufruir e a valorizar ao longo da nossa vida e que partilhamos, apenas, com os nossos melhores amigos. Coisas e lugares dos quais temos saudades quando não os visitamos regularmente ou quando, simplesmente, desaparecem.
Refiro-me à confeitaria que nos faz o bolo de anos das crianças ou o bolo-rei no Natal, do cabeleireiro que nos arranja as faneras e onde apenas se adianta: "É o costume!". Da modista ou do alfaiate que nos vestem há anos. Do restaurante onde marcamos os repastos comemorativos ou da mercearia onde nos vamos aviar. Da sapataria que tem os calcantes que melhor se ajustam ao nosso pé. Enfim!...pequenos luxos que consideramos "indispensáveis".
Confidenciando alguns destes meus "ricos hábitos", de que tirei partido ou ainda mantenho, assumo que levo regularmente o meu cão ao My Friend, em Lagos, onde o Sr Paulo lhe dá o banho e lhe apara o pelo, como nenhum outro em Portugal e arredores.
Quanto ao meu, quem mo cortava era o Sr Moreira, na barbearia Invicta, à Praça Carlos Alberto, junto aos Clérigos que visitava todos os meses, mesmo quando vivia em Milão.
Demorei muitos anos a encontrar um bom médico estomatologista e quando isso aconteceu, a pandemia e outras circunstâncias, levaram-no também para o Porto.
Pois bem, lá vou para cima de três em três meses.
- Ao Porto? – dirão vocês.
- Sim, ao Porto! – respondo eu.
Para fazer a viagem de manhã com tranquilidade, marco normalmente a consulta para as 14 ou 15 horas. Saio às oito, conduzo devagar, chego, estaciono o carro, como qualquer coisa e vou ao dentista.
A última vez que lá estive, em Dezembro, estavam 3º centígrados e apesar de solarengo, o dia apresentava-se ventoso. Descia a rua Professor Bento de Jesus Caraça à procura de um local onde pudesse confortar o estômago, quando reparei num café à minha esquerda, que tinha algumas mesas vazias na esplanada.
Aproximei-me, puxei a porta de vidro e entrei. Um empregado abordou-me e eu disse-lhe, que era para comer uma sandes mista.
- Quer sentar-se, ou come ao balcão?
- Prefiro sentar-me. Se for cá dentro!...
- Sim, arranja-se já aqui uma mesinha.
Acabara de me sentar e de abrir o anorak, quando me perguntou:
- Em vez da sandes mista, o senhor não prefere, antes, uma sopinha quente?
- Prefiro pois!...
Acabei por comer a sopinha de legumes, umas fatias de pão com azeitonas, uns filetes de pescada com arroz de tomate e uma papaia - que eu café não bebo.
Quando fui pagar os 12 € de tão supimpa e inesperada refeição, ainda me disse:
- Então? Não ficou mais aconchegado assim!...
E então?
Já perceberam porque é que eu vou ao dentista ao Porto?
Lisboa, 23 de Fevereiro de 2023
José Aleixo Dias