Poesia # 37 - O mistério do carro preto
Abre os olhos. Está escuro.
Esfrega os olhos. Continua escuro.
Ouve as cigarras. Ainda não é hora de acordar, pensa.
Fecha os olhos para voltar a dormir quando ouve sussurros. Fica quieta sem se mexer, tentando perceber de onde saem as vozes. Os monstros continuam no mesmo sítio a olhar para ela, por isso não podem ser eles. Estão calados, como estão sempre, a olhar para ela, a vigiá-la.
Salta da cama com dificuldade. A cama é alta e para sair da cama sem fazer barulho, precisa sair com muito cuidado e muito devagar. Vai-se deixando escorregar e quando chega ao chão, sempre com os olhos nos monstros, percebe que as vozes continuam.
Vai muito devagarinho de gatas até à porta do quarto e, sem fazer barulho, sobe para o mocho para espreitar pela fechadura. Não consegue ver nada, mas as vozes ouvem-se muito melhor. Cola o ouvido à porta e escuta.
"... carro preto..." "... levaram-no..." "... fazer qualquer coisa..." "...o Mário..."
Não consegue ouvir muita coisa, mas o que houve percebe. Percebe que aconteceu algo de mau e que o avô diz que é preciso fazer qualquer coisa. Percebe que é preciso encontrar o primo Mário e o carro preto.
As vozes páram. Estão todos a ir embora. E agora, como consegue voltar para a cama? Ela é tão alta que só com ajuda é que consegue subir. Mas não vai pedir ajuda a ninguém. Não! Ela é que vai ajudar a encontrar o carro preto. Deita-se no soalho quente, olha para os monstros, e adormece.
Amanhã vai começar a procurar o carro preto!