Poesia # 29 - Narizes
Tenho um razoável olfacto.
Não como o do meu cão, claro!
Mas detecto um bom bife a grande distância e localizo um peixinho grelhado, ou a fragrância
quente de um perfume feminino, com grande facilidade!
Gosto mais dos aromas frescos, silvestres.
Aprecio um cheirinho suave de bebé,
a essência amadurecida de um néctar do Douro,
ou o bálsamo matinal da maresia.
Aprendi a analisar o vinho pelo olfacto.
A reconhecer os seus aromas, a intensidade e a
longitude,
antes mesmo de degustar o seu sabor,
ou a perscrutar as tonalidades da sua cor.
No pós-covid apercebi-me de que algo estava a
mudar.
Não só, perdi algum olfacto, como
passei a sentir regularmente um cheiro a
metal, irritante.
Fui visto por um neurologista, fiz
nasofriboscopia e TAC.
Mas, não encontrou nada de anormal.
Ontem, para o final do dia,
comecei a sentir um cheiro danado a gasóleo,
que ainda se mantém, em crescendo.
Perguntei a minha esposa, se sentia algo
parecido,
o que prontamente negou.
Tenho estado a pensar sobre o assunto
E, se calhar,
quem eu tenho de consultar
não é um neurologista, é um escanção!...