Poesia #21 E novamente a solidão...
Já me tinha desacostumado dela,
esta velha companheira,
presença quase obrigatória
nos momentos mais delicados
em minhas horas mais intensas.
Suspeitava, no íntimo,
(uma voz absurda e perplexa me dizia)
que ela não partira de vez.
Ficara apenas espreitando pela fresta
de uma porta que teimosamente continuou entreaberta,
aguardando, com a paciência dos que estão seguros,
o momento de reentrar.
Aos poucos, sem pressa, ela vai-se instalando.
Com ares de dona, reconhece o espaço,
reencontra os sons, ecos de velhas harmonias,
redescobre cores, formas e palavras
desleixadamente esquecidas num canto.
Resta-me agora (inútil tentar expulsá-la)
reaprender o seu convívio,
aturar os seus vícios e manias,
estar atento às suas artimanhas
e também desfrutar os nossos momentos de magia,
a sua calma intimidade,
seu profundo conhecimento de mim
e sua absoluta fidelidade.