O que quero para a minha vida

21-07-2021

No outro dia, li um texto no facebook que me fez pensar.

Dizia assim:

"Por vezes conduzimos as nossas vidas em piloto automático, sem pararmos para refletir nas nossas ações, naquilo que imaginamos ser o nosso ideal de vida.

Esse ideal de vida, fomos nós que o criámos ou foi alguém que o criou para nós, como uma receita universal que supostamente deveria servir a todos os biliões de pessoas que são, na verdade, seres únicos?

Tirar um curso superior, comprar um carro, ter uma carreira, casar, comprar uma casa, ter filhos (...).

Por mais que este "ideal de vida" possa servir a um certo número de pessoas, outras sentem que a sua vida exige algo de diferente para que faça sentido.

E ser diferente não está errado.

Cabe a nós refletirmos naquilo que queremos para a nossa vida.

Se é aquilo que todos os outros têm e procuram, ou se é algo diferente que nos preencherá e nos fará sentirmo-nos realizados."

Cresci, como provavelmente muitas outras pessoas, a pensar que estes eram OS ideais de vida.

Ou será que, como diz o autor deste texto, cresci a NÃO pensar nisso e a deixar-me levar pelo modelo de outros?

Lembro-me de o meu pai nos dizer que, para ele, tirar um curso era fundamental (talvez porque ele não o tivesse conseguido fazer). Referia o curso como uma enxada "Eu dou-vos a enxada mas são vocês que têm que cavar". E até dizia que só havia 3 licenciaturas com direito a esse nome: Economia, Medicina e Engenharia.

Eu, que tinha valências várias, e poderia ter sido outra coisa qualquer, acabei por tirar um curso de Engenharia. Nunca irei saber ao certo em que medida fui influenciada ou não pelo meu pai.

Também, numa fase da minha vida, sonhei em viver em comunidade onde a figura do casamento podia ou não entrar, onde as tarefas eram partilhadas, onde a guarda dos filhos era de todos.

E sonhei em ter filhos adotivos para além dos meus filhos naturais, pensando em tantas crianças órfãs que existem neste mundo. Acabei por adiar a decisão e depois era demasiado tarde. Seria?

Sou engenheira, tenho um mestrado em gestão, gostei e gosto imenso de estudar, embora hoje acho que é possível aprender sem tirar um curso, sem ter um diploma.

Tenho carro, tive uma carreira de sucesso e feliz, tenho casa própria, tenho um casamento e uns filhos maravilhosos.

Não posso dizer que me tenha saído mal com o "modelo dos outros".

Mas, e se a minha opção tivesse sido outra?

E aqueles cuja opção não é definitivamente essa, será que são considerados "estranhos"?

"O bom de chegar a determinada idade", dizia-me alguém, "é que podes ser o que tu quiseres, não tens que provar nada a ninguém".

Na verdade, esta minha nova fase da vida tem-me dado essa oportunidade.

Tem-me dado a oportunidade de pensar mais naquilo que quero mesmo e ir atrás desse ideal - o meu ideal.

Entrar na reforma, na pré-reforma ou simplesmente transitar, em qualquer fase da vida, merece esta reflexão, merece que dediquemos tempo mental para vermos o que realmente nos serve.

E a boa notícia é que nunca é tarde para começar!

Hélia Jorge