Balanço de um ano de reforma
Já passou um ano… É verdade o dia 1 de abril de 2023 foi o meu último dia de trabalho e à laia de balanço resolvi partilhar esta reflexão sobre o que foi este ano para mim?
Vou procurar falar-vos de alguns dos aspetos que foram mais relevantes nesta transição:
1. Gestão do tempo
Foi uma sensação única perceber que tinha completo controlo sobre todas as horas do dia e não era por estar de férias, era sempre assim, dia após dia!
Era mesmo fabuloso acordar e pensar o que me apetece fazer hoje? E o que me apetecia é que eu ia fazer. Senti-me uma privilegiada. Esta sensação durou pouco porque percebi que se não cuidasse de gerir este bem "maravilhoso" que é o tempo ele seria desperdiçado irremediavelmente.
Assim iniciei uma organização da minha agenda e do meu dia-a-dia usando todas as lições que tinha aprendido ao longo da vida e como verão isso permitiu-me fazer imensa coisa… (usei em especial um artigo que acho que foi particularmente útil - 9 Time Management Mistakes You are Making - Parker Klein)
2. Novas prioridades
Para definir o meu novo plano considerei que tinha primeiro de definir o que queria fazer, onde queria usar o meu tempo, o que queria aprender, enfim qual era o meu propósito para esta nova etapa de vida.
Usei uma ferramenta muito simples e que partilho convosco. Uma pequena folha, como o que vos mostro na figura. Levei vários dias a preencher aquele quadro porque fui refletindo sobre cada coisa que nele colocava, mas ao fim de uma semana tinha definido as minhas linhas de orientação.
Revisito esta lista com regularidade e vou
acrescentando ou retirando assuntos sempre que isso faça sentido.
Outra lição importante foi a de definir um ritmo diário, com a flexibilidade que lhe quisermos colocar, mas que nos permite mantermo-nos organizados e focados no que queremos que aconteça.
Neste caso coloquei algumas coisas básicas, mas muito importantes, horas de sono, tempo de ginástica, tempo de leitura e tempo livre. Isso garante que continue a ter noites bem dormidas, acordar cedo e fazer logo uma sessão de Pilates seguida de algum tempo de leitura.
Isto permite que às horas que os outros começam a trabalhar eu já fiz as minhas tarefas "obrigatórias" e tenho o resto do dia para fazer tudo o que me apetecer, não é um privilégio?
4. Uma nova identidade
Comecei a construir uma nova identidade, bem de facto não é assim tão nova, é mais uma evolução, isto porque há aspetos que são para manter e outros que são para mudar. Por exemplo, continuo a chegar sempre a horas aos compromissos (sempre fui assim) mas se os outros se atrasam já não fico nervosa nem furiosa, limito-me a pegar no livro que me acompanha para todo o lado e começo a ler. É verdade, leio à mesa dos restaurantes, no banco do jardim, onde for o encontro.
Este é apenas um exemplo, mas há outros que estou a aprimorar.
5. Estou reformada
Já consigo dizer com algum à vontade que estou reformada, vejam que é muito diferente de ser reformada o que não penso ser nunca.
Inicialmente sentia-me desconfortável quando dizia que estava reformada. Isso aconteceu por causa da forma como algumas das pessoas, a quem o disse, pareciam mudar de atitude imediatamente. Era estranho, mas ficava com a sensação que a conversa que estávamos a ter já não era interessante ou útil para eles ou então que se sentiam incomodados sem saber o que dizer. Esta situação resolvi rapidamente deixando de me preocupar com a reação dos outros e continuando a ser eu mesma.
O que foi mais difícil foi eu mesma aceitar a ideia. Sentia-me estranha por estar a receber um pagamento e andar a fazer o que me apetecia sem grande preocupação de resultados. Parecia-me injusto, sei lá!
Foi preciso percorrer os mais de 40 anos de trabalho e inventariar o que tinha feito para me começar a sentir em paz por agora estar a "descansar". Às vezes somos nós que complicamos a nossa própria vida.
6. Os amigos
Conservo os meus amigos antigos e procuro estar com eles com regularidade e ganhei amigos novos, na maior parte resultado das minhas novas atividades em especial na Transições. Ir almoçar ou tomar café com alguém é um excelente motivo para sair de casa, andar e partilhar experiências e informação. A lista dos amigos é algo que trato com muito carinho e dedicação.
7. O guarda-roupa
Já fiz uma primeira reestruturação ao meu guarda-roupa, já desapareceu muita roupa dita formal e nos sapatos e nas malas a volta ainda foi maior. O que entrou foi prático e confortável. No entanto, neste capítulo, tenho ainda muito para fazer. Estou a ganhar coragem para na próxima mudança de estação ir um pouco mais fundo.
8. Vivo no meu bairro
Agora sinto que vivo no meu bairro. Quase diariamente passo a pé por este ou aquela loja, ou café. Neste ano já encontrei mais pessoas amigas e conhecidas que nos vinte anos anteriores.
E fico feliz porque já conheço algumas árvores, já sei onde nascem certas flores e sei por onde devo ir se está sol ou se chove. Já me inscrevi na Biblioteca e mais recentemente no ginásio mesmo ao pé de casa. Gosto muito do meu bairro.
9. Faço coisas que julgava improváveis
Comecei a fazer coisas que me pareciam quase impossíveis, como desenhar ou pintar, o que faço mesmo com muito gosto são zentangles; escrevo e partilho o que escrevo no grupo do desafio da escrita (estejam atentos porque costuma haver workshops de zentangle e de desafio da escrita na Transições) e estou a aprender holandês.
Faço ainda outras atividades que antes não tinha tempo: como trabalhar com flores secas e resina epóxi ou fazer tricot. E claro, leio como se estivesse de férias. Leio muito mais variado e isso também graças aos Encontros de Leitura mensais e também a outros grupos a que vou estando mais atenta.
10. Mantive-me curiosa e estudiosa
Adoro estudar assuntos novos e graças aos debates que também fazemos no Desafio da Escrita e não só, estudei temas como: Inteligência Emocional; Os nossos Sentidos, Inteligência Artificial e outros temas mais gerais como Religião Woke, Literacia Política, Regras de Ortografia ou Gestão de informação.
Descobri também novas músicas e muita coisa à volta da música de todos os tempos.
Enfim sinto-me a descobrir o mundo e qualquer tema pode ser um tema a explorar.
11. E a melhor surpresa de todas
Embora eu gostasse muito do que fazia na minha vida profissional e apesar de muitos anos a viver envolvida naquela realidade, sinto que consegui desligar e que não tenho saudades nenhumas.
Isto foi possível graças a uma grande lição de uma amiga que me disse: o grande problema é confundir o que somos com o que fazemos. Isto foi-me dito muito antes de me reformar e eu cuidei de não me confundir e na hora da reforma continuei a ser eu mesma e, sim, passei a fazer outras coisas.
À medida que o tempo passa descubro que gosto cada vez mais do que passei a fazer e que ter a liberdade de gerir onde coloco a minha atenção dá-me uma enorme alegria de viver.
Como veem este ano foi muito rico em experiências e mudanças, mas isso só foi tão fácil e tão completo porque nos dois anos anteriores, com ajuda da Transições preparei-me, li e estudei muito do que está no site, encontrei novos amigos e novos interesses e também porque a minha família me ajudou e incentivou sempre.
E cá estou eu preparada para o segundo ano de reformada.
PS: se quiserem conversar sobre este tema, estou disponível. Usem os contatos que foram partilhados.
Ana Paula Melo, março 2024.