Pax et Bonum

23-04-2022


Quando fomos a Santiago de Compostela, além da catedral, visitámos muitos outros monumentos como o Convento de S. Francisco. Os monges pertencentes à Ordem Franciscana saudavam-se dizendo a frase PAZ E BEM! Acho uma frase maravilhosa porque sintetiza o cerne da vida.

Seria tão bonito saudar assim em vez de dizer apenas um amorfo bom dia. Paz e bem! Provavelmente as pessoas ficariam espantadas, pensando que estávamos com os neurónios desligados ou que pertencíamos a alguma seita nova.

Todos os sítios visitados forneciam um documento carimbado e no verso deste há uma oração:

Que o amor seja luz de esperança no teu caminho.

Que a paz sobressaia no teu coração.

Que a bondade seja a tua marca nesta vida.

Que a fé seja a tua segurança frente ao mistério da vida.

E que quando chegue o momento de alcançar a meta, o AMOR te abrace eternamente.

Sê feliz, e faz felizes aos outros.


Há dias em que se sente o firmamento encoberto por nuvens, indiciando trovoada. E evolui para um negro breu. Acontece! Contudo e, com tudo, existe sempre a esperança de que brote a luz aquecendo a vida com o sol da esperança em dias melhores.

Há dias em que coração não tem paz. Contudo e, com tudo, a paz é um bem essencial e, sem ela, o coração não bate, não bombeia sangue arterial, só venoso.

Há dias em que uma pessoa está nervosa e deprimida, contudo e, com tudo, por fim nasce a harmonia, principalmente em frente ao mar.

Há dias em que nem sequer nos achamos bondosos. Contudo e, com tudo, a intenção é sempre boa, mas a comunicação tem, por vezes, muito ruído. A fé pode ser uma âncora, um porto de abrigo. Rezar, rezar muito para que o bem inunde o nosso coração. Pode haver segurança e esperança de redenção. Quando alcançamos a meta ansiamos tanto que o AMOR nos abrace!

Ninguém é perfeito! Somos pedras em bruto e há muito a cinzelar, a polir, a aperfeiçoar para transmitir beleza. Certamente, não almejamos ser uma Vénus de Milo ou um David de Miguel Ângelo. Poderíamos ser moldados por Degas! Far-nos-ia em bronze, bailarinos de ballet, sua paixão, e ficaríamos a dançar ao som da música de Serguei Prokofiev no bailado Flor de Pedra.

O poema de Ana Hatherly, escritora-pintora que muito admiro, sintetiza o que eu gostaria de saber escrever.


As palavras aproximam:

prendem-soltam

são montanhas de espuma

que se faz-desfaz

na areia da fala

Soltam freios

abrem clareiras no medo

fazem pausa na aflição

Ou então não:

matam

afogam

separam definitivamente

Amando muito muito

ficamos sem palavras (1)

Não existe felicidade constante e só se lhe dá valor quando não a temos.

E quando não a temos é que devemos lutar com coragem, garra, ter dente, não ficar impotente perante adversidade "NENHUMA! / A gente / só é dominada por essa gente / quando não sabe que é gente" (2)

E o meu desígnio é ser feliz e espalhar felicidade em meu redor.

Lurdes Aleixo


Fontes: (1) Ana Hatherly, in O Pavão Negro, 2003; (2) Um Calculador de Improbabilidades, 1980


Fotografia de Dulce Borges