A descer e ao ritmo das tartarugas

12-04-2023

Recordo-me que o Maestro António Vitorino de Almeida disse num dos seus programas (A Música e o Silêncio, salvo erro), que a música portuguesa é predominantemente "a descer", facto que demonstrou ao piano com meia dúzia de acordes de músicas conhecidas.

Considero-me um melómano medíocre, mas basta analisarmos o Hino Nacional:

- Heróis do Mar (a descer

- Nobre povo (a descer)

- Nação valente (a descer)… para percebermos que assim é.

Gostava de saber porque escolhemos amiudadamente os tons menores das notas musicais. São tristonhos, chorosos, lamechas. Porquê?

Será porque nos julgamos coitadinhos?

Somos uma nação de Lá menor.

Até o radioso Sol que caracteriza o nosso país, quando transposto para uma pauta se torna um "Sol <"!...

Será uma questão de forma? De feitio? Ou de ambas?

São talvez os sentimentos, mas como explicá-los?

Na tríade maior as relações entre as notas dão uma impressão de jovialidade, de alegria, incutem vontade, determinação, superação. Essas, contudo, não predominam entre nós. Parece ser este o nosso fado e, não é por haver hoje mais fadistas do que outrora, que a melodia vai alterar-se.

Talvez nos falte alguma cultura musical!...

Porém, as nossas características, enquanto povo, não se ficam por aqui. Alternamos entre o eufórico e o deprimido com muita facilidade: Somos de alguma forma bipolares, como o futebol bem demonstra.

Portanto, tudo isto é uma questão de opções.

Escolha uma escala num tom alegre e atire-se à vida!

Ah! Já me esquecia!...

Também importa considerar o andamento, o compasso, a cadência pois, normalmente, nós por cá andamos ao ritmo das tartarugas. Vamos muito lentamente.

Oxalá façamos bem!...

José Aleixo Dias

Lisboa, 17-02-2023