Tenho mais de 55 anos,                 so what?

12-11-2022

Felizes os que já chegaram aos 55 anos porque significa que estão vivos e têm uma história de vida para contar. Certamente que essa história tem coisas boas e más, alegrias e deceções, decisões e dúvidas, escolhas certas e outras menos, quedas e recomeços, mas é uma história de vida... a sua história! E isso deve ser motivo de agradecimento e orgulho.

Agora imagine que tem tudo isto, mas está em casa sozinho porque a família se levantou de manhã, tendo uns ido trabalhar e outros para a Universidade. Imagine que já está cansado de enviar CV e já esgotou os seus contactos. Imagine que todos aqueles e-mails e mensagens que enviou foram ignorados. Imagine que ainda não conseguiu superar a última entrevista de emprego em que lhe disseram: "O seu CV e experiência são muito bons, mas procuramos alguém com mais disponibilidade" (leia-se, menos idade).

O que faz? Resigna-se e baixa os braços? Acusa tudo e todos? Faz-se de Calimero? (para os mais novos explico a referência: Calimero era um boneco animado que sofria de um sentimento de autocomiseração sendo incapaz de lidar com todos os males que lhe aconteciam).

Ou, pelo contrário, olha-se ao espelho, orgulha-se da sua história de vida e encara o futuro de frente e com a confiança do caminho já percorrido?

Há uma parte (importante) do nosso futuro que depende de nós, cabendo-nos trabalhá-lo e tudo fazer para que se concretize como o imaginámos e desejamos. Mas há também uma parte que depende (deve depender) de um esforço coletivo que precisamos fazer como sociedade e que se prende com a necessidade de encontrar respostas para a geração acima dos 55 anos. É um esforço coletivo porque as respostas têm de ser pensadas e implementadas por todos, desde a Administração Central e Local do Estado, às empresas públicas e privadas, associações, IPSS e ONGs.


Por hoje, vou-me concentrar apenas no papel das empresas.

A grande maioria das empresas (públicas e privadas) continuam a olhar para as pessoas com mais de 55 anos com grande desconfiança. Invocam-se os mais variados argumentos: falta de competências técnicas; dificuldade de adaptação; pouca energia; resistência à inovação e mudança, entre outras. Parecem-me "argumentos míopes" e enviesados porque assentes em preconceitos muitas vezes inconscientes. Em que nos baseamos para dizer que uma pessoa de 55 anos resiste mais à inovação e à mudança do que uma pessoa de 40 anos? Porque é que uma pessoa de mais de 55 anos, que quer olhar e cuidar do seu futuro, tem menos energia do que uma pessoa de 30 anos, sujeita a tantas outras solicitações como, por exemplo, os desafios relacionados com maternidade/paternidade e com a educação dos filhos? É certo que uma pessoa de 55 anos terá, em princípio, menos competências técnicas, sobretudo na área digital, do que uma pessoa de 20 anos, mas o que dizer das suas competências comportamentais e interpessoais assentes em 25 ou 30 anos de experiência de trabalho em equipa?

É tempo de as empresas superarem estes preconceitos e terem a coragem de investir na geração 55+. Digo coragem, porque é mesmo disso que se trata. Só as empresas que ousam inovar e assumir determinados riscos florescem. Só as empresas que se antecipam às tendências de mercado conseguem manter-se sempre à frente dos seus concorrentes. Só os visionários conseguem construir empresas que perduram e marcam gerações. Pois bem, acredito que a aposta na geração 55+ permitirá às empresas inovar na forma como recrutam. Acredito que a aposta na geração 55+ permitirá a muitas empresas antecipar a enorme escassez de mão-de-obra que já afeta a Europa, em geral, e Portugal, em particular. Acredito que a aposta na geração 55+ fará com que muitas empresas perdurem e continuem a expandir-se.

É bom recordar que com o envelhecimento da população, a geração 55+ é cada vez maior. É bom recordar que a geração 55+ tem, geralmente, mais rendimento disponível e maior poder de compra. É bom recordar que a geração 55+ vai "andar por aí", em média, mais 25 anos com tudo o que isso significa em termos de oportunidades de mercado.

Parece-me, pois, que esta é uma aposta que as empresas devem fazer. É a decisão acertada em termos estratégicos (escassez de mão-de-obra), comerciais (haverá cada vez mais consumidores 55+) e de gestão (a cooperação intergeracional pode ser um fator diferenciador nas empresas).

Há também uma dimensão social que não podemos esquecer: não podemos descartar ninguém nem nenhuma geração!

Diogo Alarcão