Recordações de um Castelo encantado

23-06-2021

Agora que o Verão chegou, e progressivamente a vacinação vai avançando, ainda que a ritmos diferentes nos vários países, a sociedade começa a retomar alguma normalidade.

Entre esta normalidade e o aproximar do Verão, começamos a pensar nas viagens que não fizemos e ficaram adiadas, mesmo aquelas a locais não muito distantes, onde íamos com alguma frequência por um ou outro motivo, e que de súbito fomos forçados a interromper. Quero falar-vos hoje de um local, mais concretamente de um hotel, daqueles poucos que nos ficam nas melhores recordações e que sabemos ser o sítio a que um dia iremos regressar. É o caso deste Oakley Court nos arredores de Windsor. Fica a apenas a dez quilómetros de Heathrow, o que é conveniente para quem chega a este aeroporto, e a cerca de trinta quilómetros de Londres.

O objetivo de escolher o Oakley e Windsor para um fim de semana prolongado, ou uma escapadinha romântica a dois, ou uma viagem apenas sozinho, obviamente nada tem a ver com ir a Londres.

Trata-se de viver um pouco o countryside e os magníficos doze hectares de jardins que rodeiam o hotel e que são parte da propriedade, atravessados por um afluente do Tamisa onde podemos passear em barco do próprio hotel.

Cheguei ao hotel era já noite, num início de Setembro. O castelo iluminado é algo de mágico que surge de súbito por entre o arvoredo do parque que o rodeia. É um castelo recente do início do século XIX feito ao estilo francês, com torreões e gárgulas com monstros e símbolos por todo o lado na fachada e arcos da porta principal, esta iluminada com fachos de fogo.

O hotel com um conforto e decoração muito britânicos, alguns quartos com lareira e paredes apaineladas em madeira envernizada, tem o requinte e bom gosto da tradição a que não falta o "boothouse" para cuidar do calçado, o mordomo zeloso, a biblioteca que dá para o jardim de inverno e o medalhado restaurante terrasse que justifica uma boa refeição ou o chá das cinco.

O jardim e o parque valem bem uns bons passeios pela manhã depois do pequeno-almoço inglês tradicional com produtos frescos, ou então mais ao fim da tarde, para descansar numa das cadeiras à beira da casa dos barcos, ouvindo o rio passar.

Se não conhece o Castelo de Windsor onde a família real passa normalmente o fim de semana, sugiro que aproveite para o visitar logo pela manhã antes que cheguem de Londres os autocarros de turistas. Assim, tem o Castelo quase só para si e pode até cruzar-se à entrada com alguém da família real, como me aconteceu na primeira vez que lá fui e o Príncipe William passou por nós (um pequeno grupo de jornalistas), saudou-nos com um "good morning" extensivo aos guardas e seguiu o seu caminho acompanhado apenas com um jovem segurança, descendo a rua em frente com o ar descontraído de um qualquer outro cidadão numa manhã de sábado. Além disto, Windsor é uma vila agradável com bom comércio, bons "pubs" e restaurantes simpáticos.

E até pode fazer o contrário: que é um dia apanhar o comboio de manhã (meia hora de Paddington), passar o dia em Londres, e voltar ao fim da tarde ao paraíso de Oakley, ao chilrear dos pássaros e ao grasnar dos gansos.

E não fique assustado por o castelo ter servido de cenário a uma dúzia de horripilantes filmes do Drácula, o que de facto aconteceu antes de ser hotel (a quanto obriga a necessidade da receita). Não conheço na verdade lugar mais misterioso, nem mais encantador, para uma estadia romântica...

Eu comemorei lá os meus trinta anos de casamento.

Junho de 2021

Lopes de Araújo