Poesia # 68 - Morrer como se viveu

31-08-2023


Vá-se lá saber porquê
Nos últimos tempos
Tenho reflectido sobre a morte.
Talvez por ter perdido este ano a minha sogra
Talvez por ter uma mãe muito idosa
Ou, talvez, porque me preocupe comigo!

O fim da vida deixa as pessoas frágeis e vulneráveis.
É a constatação de capacidades perdidas:
O equilíbrio, a mobilidade, a autonomia,
Para além do decréscimo da visão,
Da audição e do sabor.
É a percepção do fim que se aproxima.

As coisas já não nos interessam.
Pensa-se apenas no que se fez ou deixou por fazer,
O que se podia ou devia ter feito.
Mas, agora, o tempo ganha um outro significado
Parece já não haver tempo para nada!
Apenas para rezar e esperar que ela chegue.

É um tempo de aproximação
De perdoar e pedir perdão
De preparação e purificação interior
De aprender a lidar com o medo.
O contacto de uma mão diz tudo.
Já, não são precisas palavras!