Os travões foram feitos para acelerar
Perante a pergunta "para que servem os travões?" a resposta mais comum é: "os travões servem para travar" ou "os travões servem para abrandar".
Há tempos ouvi uma resposta a esta pergunta que me surpreendeu e que me fez refletir. Dizia-me a pessoa com quem falava (e aprendia!) que "os travões servem para acelerar".
Como assim?!?
Sim, os travões foram concebidos para que os carros pudessem ganhar mais velocidade sem colocar em perigo pessoas e bens. Na realidade, só através dos travões é que é possível ganhar velocidade pois sem os mesmos estaríamos sempre limitados às leis da natureza (gravidade, inércia...).
Refletindo sobre isto, dei por mim a pensar se fazemos bom uso dos travões na gestão das pessoas, das organizações e das nossas vidas e se temos consciência das vantagens deste instrumento.
Quantas vezes travei para avaliar os meus atos e decisões?
Quantas vezes travei para mudar de opinião?
Quantas vezes travei para ter tempo para ouvir os outros?
Quantas vezes travei para alterar o rumo da minha estratégia?
Quantas vezes travei para aprender com os meus erros?
Quantas vezes travei para apenas... contemplar?
Travar na gestão e na vida, como na condução, permite-nos acelerar; isto é, permite-nos ganhar velocidade, evoluir, crescer, arriscar, compreender, julgar e decidir melhor.
Creio que nos falta, muitas vezes, a humildade e a coragem para travar. Pressionados pelos resultados de curto-prazo, pela embriaguez do sucesso e pelo medo do insucesso, caímos num movimento de aceleração contínua, sem travagens, que nos consome e que não nos faz necessariamente progredir. Podemos, e na maior parte das vezes até conseguimos, alcançar os objetivos que nos propomos, mas tenho dúvidas que utilizemos de forma inteligente o travão, como ferramenta de gestão para progredir mais rapidamente.
Esta dificuldade em travar manifesta-se quer na esfera individual como coletiva.
Se soubermos travar, teremos certamente mais tempo para pensar e estaremos mais bem preparados para acelerar com alegria e entusiasmo rumo aos novos desafios que temos pela frente.
Diogo Alarcão
Link to Leaders - Janeiro 2020
(Adaptado para a TRANSIÇÕES em Novembro 2021)