Adeus coisas!

14-04-2021

Acabei, há uns dias, de ler o livro "Goodbye Things" de Fumio Sasaki. Foi-me proposto pelo Normax, o primeiro livro do nosso clube de leitura.

O livro é sobre o minimalismo, tema que me é grato, mas que não é novo para mim.

Há mais de um ano que ando numa cruzada para reduzir os meus pertences. Normalmente não deito fora, nem vendo, dou a quem acho que possa fazer sentido.

Já dei roupa, muita mesmo. Também adaptei roupa que não usava por estar "fora de moda" e com apertos aqui e ali passei a usar. Agora já consigo "ver" a minha roupa dentro do armário e posso dizer que gosto de quase tudo o que tenho. Mas ainda falta o quase...

Dei livros, mas ainda só dou aqueles que não gostei particularmente... ainda sou muito agarrada aos meus livros...

Dei há anos, uma coleção fantástica de discos de Vinil, e agora já dei os CD, mas aqui também ainda só os que não gostava.

Dei lençóis, toalhas de mesa e de banho, panos de louça... Tinha roupa de cama e toalhas lindíssimas, bordadas por mães e avós, e só usava as outras, as que não têm atrativos nem história porque não eram dias especiais. Agora, todos os dias são especiais e só uso toalhas e lençóis bordados. Sim sou fina!

Dei montanhas e montanhas de bibelôs. Tinha tantos, comprados mas sobretudo dados por familiares e amigos, ou resultado de espólio de heranças várias. E estavam de tal modo "uns em cima dos outros" que realmente não conseguia apreciar nada, porque nada tinha destaque.

O caminho é grande longo. Impus-me a mim própria todos os dias me desfazer de um objeto por mais pequeno que seja. Pode ser uma fotografia. Porque guardo uma fotografia que tirei com um colega de trabalho que até nem estou grande coisa e o colega nem é propriamente um amigo?

Nunca serei uma minimalista no sentido do Fumio Sasaki.

Gosto de alguns objetos que me trazem memórias quentes;

Aquele copo de brandy do tempo da minha avó quase piroso quitch, alaranjado com flores gravadas...

Gosto de ter fotos espalhadas pela casa. A da minha avó padeira, que não sabia ler nem escrever mas sabia contar, com o bloquinho das contas depois de uma venda do pão, ... a foto do meu filho Vasco a espreitar, curioso e enternecido, para o irmão Miguel acabado de nascer, ... A foto do meu pai na praia a deixar-se despentear pelo neto Vasco, ...

Gosto dos meus quadros, do Dali, do VanGogh, ...

Gosto da minha cadeira parteira onde tanta gente da família dormiu sestas na quinta, ...

Gosto de ouvir o tique-taque do velho relógio que era da casa dos meus pais e sentir-me mole e sonolenta...

Não, não sou minimalista. Mas percebo que a aritmética pode ser outra quando Menos pode ser Mais, muito Mais...

O minimalismo não é um fim em si mesmo, mas ajuda as pessoas a descobrirem o que é realmente importante e a serem estarem mais focadas a não se distraírem com "coisas".

Mas o melhor é lerem mesmo o livro e experimentarem vocês mesmos.

Aviso, o livro torna-se repetitivo, e acho que não é para seguir à risca, mas tem imensas dicas muito valiosas para quem queira dizer "Adeus às Coisas" e sentir-se mais leve!

Curiosidade, no outro dia já era suposto estarmos a discutir o livro e o Normax nunca mais dizia nada. Finalmente "veio ao de cima", e disse:

- Desculpa não ter dito nada no último mês, mas acabei de ler o livro e decidi mudar o meu mundo,... sinto-me muito mais rico e sábio, e definitivamente muito mais novo porque começo a ver as coisas de um modo diferente.

Se as minhas palavras não vos convenceram então sigam o Normax que, aos 95 anos, ainda acha que vale a pena mudar!

Hélia Jorge