Eu gosto de romances!

13-01-2022
Fotografia de Jorge Gonçalves Silva
Fotografia de Jorge Gonçalves Silva

Os meus Pais não tinham capacidade económica para me comprar muitos livros e era uma festa quando os recebia no Natal e no aniversário. Deste modo, logo que aprendi a ler, praticava a partilha com amigas e colegas mais abastadas: Os Cinco de Enid Blyton, As Mulherzinhas de Louisa May Alcott, todos os de Julio Verne e tantos outros.

Influenciada pelo meu Avô Manuel do Sacramento, que tinha uma biblioteca riquíssima mas que não se apercebia do meu nível etário, comecei a ler a partir dos 14, 15 anos os russos. De Liev Tolstói a Guerra e Paz e Ana Karenina, de Fiódor Dostoiévski Crime e Castigo, de Gorky A Mãe. Adorei Olhai os lírios do campo de Erico Veríssimo, Os Miseráveis e Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo, todos os de Charles Dickens, etc. Na altura lia lia livros com uma voracidade estonteante. O curso de leitura proporcionado pelo Avô começou num patamar superior de Romances!

No entanto, será um pecado quando se declara "Eu gosto de romances"? A maioria das pessoas associa imediatamente melodramas de cordel cheios de ânsias de amor, beijos, abraços e outras "cenas". Alguns são assim. Mas no grande universo da literatura são uma gota de água no oceano.

Porém, subsiste logo uma conotação negativa. Um dos livros que li e de que gostei muito foi The Year that Changed Everything de Cathy Kelly, 2018. Esta escritora irlandesa criou cerca de 20 livros, foi bestseller em vários títulos, embora seja descrita como autora de ficção feminina. Haverá aqui discriminação de género? Também aprecio policiais e livros de ficção política, histórica e científica, como os de Grisham e de Ken Follet que também vendem milhões e não são considerados do domínio da literatura. Será que Os Pilares da Terra de Follet não é fabuloso?

Numa entrevista, Gabriel Garcia-Márquez reitera sua crença no gênero: "se você diz que o romance está morto, não é o romance, é você que está morto". (1)

Nos romances é fulcral haver Amor nas suas múltiplas formas. Nada melhor para o ilustrar!


A PAIXÃO GREGA, de Herberto Helder (2)

Li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão? (...)

Na Transições temos paixão! Paixão por viver uma vida ativa e, ler romances ou qualquer outro género de obras, ajuda-nos a Sonhar Mais Alto!

Sempre imaginei o paraíso como uma espécie de biblioteca.

Jorge Luis Borges (3)

Lurdes Aleixo Dias


Fontes: 

(1) Wikipédia  ; (2) in A Faca não corta o Fogo, editora Assírio & Alvim;  (3) citações.in