A Anomalia

Creio que todos nós, em qualquer momento, nos questionámos sobre quem somos, a que devemos o estar vivos e conscientes, donde viemos, para onde vamos, o que é a Vida, o que é a realidade.

À medida que as nossas capacidades evoluem e nos tornamos mais aptos na concretização tecnológica e que esta nos permite aproximar o nosso conhecimento consciente da matéria mais ínfima, ainda mais perguntas nos surgem e outras respostas se oferecem.

A trama insere-se na realidade contemporânea, com muitos protagonistas finamente construídos e aparentemente contraditórios (pai de família/assassino ou escritor-fantasma/autor de culto); o autor manipula a linguagem adaptando a prosa às personagens e às circunstâncias. Tem de romance psicológico, de policial, de espionagem, e a história de amor: a escolha entre o homem de março e o homem de junho. Será o mesmo ou três meses "suspensos" fazem a diferença?

Uma turbulência tão comum nas viagens aéreas vira a vida do avesso dos ocupantes e dos que partilham as suas vidas e dos que se juntam para entender o acontecimento e o integrar no mundo: para perceber a parte de nós que nos escapa, a duplicidade da nossa existência e/ou do confronto com o nosso duplo, a essência e o essencial, a condição humana, o jogo da Vida. Haverá várias camadas de realidade?

Com um ritmo que nos faz ler com vontade e com a curiosidade de aonde nos leva, uma escrita rica e elaborada mas de fácil leitura e entendimento, divertido e até hilariante, sem dúvida polémico, Hervé Le Pellier conseguiu uma obra inesperada.

Li este livro há já algum tempo, e apreciei cada palavra, cada personagem, cada circunstância, todo o enredo. Na altura, senti-me impelida a partilhar com os membros da Transições, mas refreei-me por achar que não se inseria no nosso contexto. Em conversa com um membro da Transições, falei do livro e da questão da partilha, que me disse: "tem que fazer a ponte". Este foi o resultado. Espero que apreciem este enredo de "transições" devido a uma turbulência.

Alexandra Carvalho