Luísa Pires
NATAL de 1971
Natal
de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não
são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de
milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal
de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma
Justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em
ser-se concebido.
em de um ventre nascer-se,
em por de amor
sofrer-se.
em de morte morrer-se,
e de ser-se
esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda
mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal
de honesta fé.
com gente que é traição,
vil ódio,
mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De
quem?
Daqueles que o não têm.
ou dos que olhando ao
longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou
dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os
homens
devem estender-se a mão?
Jorge de Sena
