Medo-mestre que protege e desafia

O medo é, tantas vezes, visto como um inimigo. Um obstáculo que paralisa, uma sombra que se impõe. Mas, se pararmos para escutar com atenção, percebemos que ele pode ser muito mais do que isso. O medo é um sinal vivo de que estamos a chegar perto dos nossos limites. Ele aparece como guardião das fronteiras da nossa zona de conforto, lembrando-nos onde termina o conhecido e começa o território ainda por explorar.

Quando surge, o medo não está necessariamente a dizer "não vás". Muitas vezes, está apenas a sussurrar: "prepara-te, porque daqui em diante irás crescer". Nesse sentido, o medo é mestre. Mostra-nos os pontos frágeis, revela as inseguranças que tentamos esconder e coloca diante de nós o desafio de as atravessar.

Há medos que são instintivos e reais, ligados à sobrevivência. Esses protegem-nos. Mas há outros — os que aparecem diante de uma mudança, de uma escolha, de um sonho — que são convites à transformação. Fugir deles é perder a oportunidade de conhecer uma nova versão de nós mesmos. Enfrentá-los é um gesto de coragem que nos expande.

Superar o medo não significa anular a sua existência. Significa aprender a caminhar com ele, a deixar que nos mostre os limites, para que possamos escolher atravessá-los com consciência. Cada vez que enfrentamos um medo, conquistamos não apenas o que está do outro lado, mas também a certeza de que somos maiores do que julgávamos.

O medo é, portanto, um espelho. Mostra-nos onde estamos e para onde ainda podemos ir. É desconfortável, sim, mas também é fértil. Porque sem ele não haveria superação, nem descoberta, nem crescimento.

Da próxima vez que sentires medo, lembra-te: ele não veio para te parar. Veio para te mostrar que estás exatamente no lugar onde o verdadeiro encontro contigo mesmo pode acontecer.

Claudia Girelli
Lisboa, 12 de novembro de 2023