Criatividade Existencial

o ato de se criar a si mesmo
Vivemos muitas vezes sob a ideia de que a criatividade está ligada à arte, à escrita, à pintura ou à música. Mas há uma forma mais profunda e essencial de criatividade: aquela que se expressa no modo como escolhemos viver. A isso chamamos Criatividade Existencial — a capacidade de nos reinventarmos, de encontrarmos sentido, de desenharmos o caminho com as cores da consciência.
A criatividade existencial não precisa de telas, nem de palavras bonitas. Precisa de presença. É o gesto silencioso de quem, diante da dor ou da dúvida, escolhe criar em vez de repetir. É a decisão de responder à vida com autenticidade, mesmo quando não temos todas as respostas. É o risco de ser inteiro, mesmo quando o mundo nos pede metades.
Cada escolha, cada reacção, cada passo que damos pode ser um acto criativo. Não porque seja inovador ou extraordinário, mas porque é verdadeiramente nosso. É aí que mora a potência da criatividade existencial — no reconhecimento de que somos autores da nossa própria história, mesmo nas pequenas coisas do quotidiano.
E se é verdade que não controlamos tudo o que nos acontece, também é verdade que temos sempre a liberdade de criar a forma como vivemos o que acontece. Isso é liberdade. Isso é arte. Isso é vida.
Cultivar a criatividade existencial é cultivar a escuta interior. É perguntar: "O que faz sentido para mim agora?" É agir em alinhamento com esse sentido, mesmo quando o caminho não é o mais fácil. É aprender a habitar a dúvida como terreno fértil, em vez de ruína.
Neste momento do mundo, mais do que nunca, somos chamados a despertar este poder. A não sermos apenas repetidores de modelos, mas criadores de realidade. Não uma realidade ilusória, mas uma vida com raízes e asas. Uma vida que se renova, que se recria, que se entrega ao mistério de estar viva.
Hoje, convido-te a olhar para ti como obra em processo. Como poema por escrever. Como semente em flor. Que escolhas podes fazer hoje que expressem a tua verdade mais íntima? Que pequena acção pode ser, já agora, um gesto de reinvenção?
Criar é um acto de coragem. E viver com autenticidade é talvez a mais bonita forma de arte.
Cláudia Girelli
Julho de 2025