A coragem de mudar / Mary Jane

Mary Jane mudou-se para Paris aos 79 anos (CNN)© CNN Portugal

A história de Mary Jane Wilkie, que aos 79 anos trocou Nova Iorque por Paris,
( https://cnnportugal.iol.pt/mudar-de-pais/paris/atravessou-um-oceano-inteiro-para-mudar-de-vida-aos-79-anos-foi-a-melhor-decisao-que-alguma-vez-tomou/20250719/6875246dd34ef72ee4484ece )

é daquelas que nos faz parar para pensar: quantas vezes dizemos que já "não temos idade" para mudar? Quantas vezes pensamos que o sítio onde vivemos, as rotinas que criámos e os hábitos que carregamos são imutáveis?

Mary Jane prova-nos exatamente o contrário. A idade não precisa de ser um travão; pode ser, antes, o momento de alinhar a vida com aquilo que realmente importa.

Mudar de lugar não é apenas trocar de morada. É a oportunidade de redesenhar o cenário onde vamos escrever os próximos capítulos da nossa vida. O local onde vivemos influencia diretamente como envelhecemos: pode dar-nos qualidade de vida, proximidade a quem amamos, acesso a melhores cuidados de saúde, ou simplesmente a alegria de viver num ambiente que nos inspira.

E, sejamos honestos, todos nós passamos por fases em que sentimos necessidade de ajustar a nossa vida. Às vezes é por questões de saúde, outras por querer estar mais perto da família, outras ainda por puro desejo de viver com mais autenticidade e prazer. O espaço onde habitamos pode ser o ponto de partida para essa transformação.

Estar disponível para mudar é um ato de amor-próprio. É aceitar que a vida não está fechada, que temos sempre a possibilidade de escolher outra paisagem, outra rotina, outra forma de viver. E não se trata de coragem no sentido clássico — como a própria Mary Jane disse, não foi coragem, foi necessidade. Coragem é agir com medo; mas quando percebemos que a mudança é o caminho natural, o medo dá lugar a determinação.

Inspirar-nos na experiência dela é recordar que nunca é tarde para recomeçar. Que podemos, sim, escolher o lugar onde queremos envelhecer, gozar a vida e cuidar de nós — seja numa grande cidade, numa aldeia tranquila, junto ao mar ou perto daqueles que nos são mais queridos.

A casa não é apenas o espaço físico onde dormimos. É o ambiente que nos acolhe, que nos reflete e que nos impulsiona a viver plenamente. E talvez o segredo esteja em não termos medo de mudar de casa, de cidade ou até de país, sempre que isso se alinhar com o que sonhamos para nós.

Porque, no fundo, mudar é continuar vivo.

Ana Paula Melo
Setembro 2025