Célia Almeida

A Estrela que Mostrava o Caminho

A serra de Serpa estendia-se em sombras azuladas quando o avô Joaquim chamou pelo neto.

— Zé, vamos até à nascente. Hoje é Noite de Reis… e há luzes no céu que só aparecem para quem precisa delas.

José aproximou-se devagar. Desde que perdera o pai, caminhava como quem carrega o mundo às costas. O avô percebia isso. Cada silêncio, cada suspiro preso, cada pergunta sem palavras.

Partiram na velha carroça, que rangia ao subir pela encosta pedregosa. O ar frio cortava, mas entre avô e neto havia um calor silencioso, feito de cuidado e do amor que tenta colar o que a vida partiu.

— Sabes, rapaz, começou o avô, olhando a linha do horizonte, quando eu era pequeno e ficava com medo do futuro, o meu pai dizia-me para procurar a estrela maior. Dizia que ela era sinal de que há sempre um caminho, mesmo quando a gente acha que o perdeu.

José não respondeu. Mas levantou o olhar para o céu, onde as primeiras luzes começavam a nascer.

Chegaram à nascente. A água corria clara, cantando entre as pedras. Enquanto enchiam os cântaros, o avô pousou a mão no ombro do menino.

— Agora, Zé… olha para cima devagar.

O menino ergueu os olhos.

O céu abriu-se numa imensidão de prata. E, bem no centro, uma estrela brilhava com uma força tão grande que parecia respirar. Não tremia, não oscilava. Apenas luzia, firme, inteira.

José sentiu um aperto no peito, não de tristeza, mas de algo novo… como se aquela estrela o visse.

— Avô… parece que ela está a olhar para mim.

— Está, disse Joaquim, com a voz baixa e segura. Porque a esperança escolhe sempre quem mais precisa dela. E tu, Zé, tens um futuro grande à tua espera. O teu pai não está aqui… mas a luz dele está. E a estrela ajuda-te a encontrá-la.

Os olhos do menino encheram-se de lágrimas, mas não doíam. Eram lágrimas quentes, como se a estrela tivesse descido até ao seu coração.

— Achas que o pai consegue ver esta estrela também?

O avô sorriu, mexendo-lhe no cabelo.

— Acho que foi ele que a acendeu esta noite. Para te mostrar que não estás sozinho. Que vais crescer forte. Que vais conquistar o que sonhas. E que cada vitória tua será como acender mil estrelas novas no céu.

José fechou os olhos um instante, sentindo a luz atravessá-lo por dentro, como se lhe fizesse um abraço.

Célia Almeida
Natal 2025