Ana Paula Melo
Quando um homem quiser
Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de
chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da
solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama
de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da
solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal
é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando
nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que
há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e
brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu
irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a
tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre
bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és
meu irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos, em 'As Palavras das Cantigas'
