Ana Margarida Ferreira

Natal é o tempo de revisitar lugares, pessoas, situações: olhar para trás e dizer tudo aquilo que não tivemos a coragem de dizer. Fazer aquilo que não conseguimos fazer ao longo do ano. Arrumar assuntos, mandar tralha fora, por mais agarrados que possamos estar. Deixar o velho partir para dar lugar ao novo.
É o tempo de fazer as pazes com o passado, o fim de um ciclo, o fecho, e para seguir em frente é preciso largar: memórias, projectos, desejos, caprichos, necessidades. Curar e renascer.
Natal é mais do que nascimento.
É a oportunidade de perdoar os outros, mas principalmente a nós, para seguirmos em frente mais leves, sem o peso da culpa, nossa e dos outros.
Natal é uma nova oportunidade todos os anos para crescermos, evoluirmos, e seguirmos caminho, porque isso é que importa, continuar, a vida não para.
Às vezes precisamos recuar, mesmo que seja doloroso, mas é necessário para continuarmos a caminhar de uma forma diferente, com as lições aprendidas.
Natal é voltar ao ninho, ao seio da família que nos nutre. Ficar no conforto das raízes, da origem, para aí sentir a segurança necessária para poder avançar.
Natal é representado pela árvore da vida. As bolas vermelhas são símbolo das nossas conquistas e as brancas são as nossas derrotas, as perdas. As fitas simbolizam os ciclos das várias cores do arco-íris: a infância, a adolescência, a maturidade e a velhice.
Durante estes períodos muitas pessoas desapareceram, outras foram surgindo. Mas o que mantém a árvore verde, luminosa, mágica, é apenas uma única coisa: o amor.
Tudo o que fizemos, de bom e mau, valeu a pena se foi em nome do amor. Só o coração pode comandar e nada vale a pena se ele não estiver presente. O amor é sinónimo de vida, onde há amor há vida. Se não o vemos é porque algo morreu, às vezes somos nós. Morremos muitas vezes durante a nossa vida: com perdas, fracassos, erros.
Quando olhamos para a árvore da nossa vida, temos que dar-lhe a devida importância, reconhecê-la e lutar para que, a cada bola branca correspondam 10 vermelhas a seguir.
Olhem para a árvore da vossa vida e sejam honestos. Podem colocar as luzinhas compradas no chinês para que pareça bela e luminosa. Mas as luzes apagam-se sempre e no momento da verdade não adianta fingir. Os raios do sol iluminam sempre a verdade. A estrela no cimo da árvore é o símbolo desse brilho. A luz da verdade está acima de tudo. E pode curar-nos se tivermos coragem de a enfrentar.
Que a magia do natal apareça reflectida nos olhos de todos. E esqueçam as prendas, a única que importa chama-se amor e sente-se, não se compra.

Ana Margarida Ferreira
Natal 2025