Solidão sem estar SÓ
"Tristeza, depressão, isolamento e solidão - Os 4 Cavaleiros do Apocalipse"(1). Há alguém que diga que vai ao psiquiatra porque está com uma depressão? Geralmente não.
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida ...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim! (2)
Sentir tristeza interior ou por terceiros faz parte da nossa experiência de vida. No contexto da sociedade actual essa vivência poderá, contudo, ser mais frequente. Se contínua a ponto de afectar as rotinas instituídas, poderemos estar perante uma depressão que deve ser abordada e tratada tão cedo quanto possível.
Como escreve Noreena Hertz, este é o Século da Solidão (3), sendo essencial restaurar as relações humanas. A solidão é uma epidemia que os cientistas definem como "discrepância entre o nível desejado de conexão social e aquele que efectivamente se tem". A sensação de isolamento aumenta em função dessa discrepância, aloja-se no corpo e, com o tempo, pode acabar em doença.
Segundo especialistas, a solidão emocional também é real e pode existir mesmo com muitas pessoas ao seu redor. É comum achar-se "só no meio da multidão". Pessoas com uma vida social activa, partilhando interesses e actividades com amigos e colegas parecem ser mais saudáveis, apresentar maior vitalidade, resistência à adversidade e uma vida mais longa. Porém, essa premissa não é tão linear. Alguns estudos evidenciaram que a solidão subjectiva pode coabitar, mesmo nestes grupos. Há tantos jovens que se sentem isolados; embora tenham um grupo de "amigos" o sentido de pertença não existe. Isto agravou-se exponencialmente com a pandemia.(4)
No ensaio Nós e os outros da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a psicóloga social Maria Luísa Pedroso Lima explica como a experiência de relações sociais promove a saúde. O Inquérito Social Europeu (2014), aplicado regularmente a uma amostra representativa da população portuguesa, permitiu concluir que as práticas de sociabilidade são preditoras da felicidade. (...) Estar envolvido em atividades coletivas permite "desfrutar do tempo em conjunto, sentir-se ligado e partilhar bons momentos". Uma vitamina para a saúde. (5)
" Não espere por uma crise para descobrir o que é importante na sua vida." - Platão
Maria de Lurdes Aleixo Dias *
* A autora escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico
Fontes: (1) Pintura de Albrecht Durer no Jornal Público,2015; (2) LÁGRIMAS OCULTAS de Florbela Espanca em "Livro de Mágoas", 1ª edição 1919; (3) "O Século da Solidão" de Noreena Hertz, Editora Temas e debates, 2021; (4) Instituto Português do Desporto e da Juventude; (5) Revista Visão Saúde, 2020