Poesia # 14 - Suaicomba 

11-07-2023

Gostava de ir nas viagens com o meu pai, mas ele poucas vezes me levava. Levou-me uma vez, tinha 16 anos, numa viagem exploratória ao Cuango, fronteira no extremo norte de Angola. Foram 160 km de picada do Quimbele até lá. Depois de termos passado uma noite na povoação, onde fui picado umas cinquenta vezes por mosquitos, integrámos uma caravana de 3 ou 4 jeep's e carrinhas e fomos em direcção ao Suaicomba, imensa e maravilhosa planície de rara beleza natural, onde os animais nem sequer tinham aprendido a fugir. Era altura de ir na carroçaria, o que fazia sempre que podia. Seguia de pé, agarrado à estrutura, a olhar em frente, por cima da cabine, cara contra o vento. Era capaz de fazer viagens de várias horas assim. Pude então contemplar do "camarote", durante alguns dias, paisagens impressionantes.

Percorríamos lentamente a última fronteira do Norte de Angola. Avistámos vários exemplares de majestosos animais a que o grupo chamava pacaças; mas uns tinham chifres para cima, direitos, outros tinham-nos enrolados sobre si próprios; alguns eram negros, outros não. Os mais pequenos eram, indistintamente, veados. Percebi que ninguém na caravana sabia bem o que estava a ver.

Não me cansava de olhar. A suavidade do relevo permanecia até onde a vista alcançava. Não tinha vegetação alta, com excepção de algumas árvores que estavam nos sítios de forma inesperada, com o chão completamente coberto de tufos de vegetação rasteira, raramente se vendo o solo. A extensão que a vista alcançava, dificultava a respiração. Passámos por lugares únicos, oásis de verde com lagoas onde tivemos oportunidade de ver alguns animais a querer beber, mas com medo de nós.

Logo de seguida, poderíamos estar a passar por uma zona de colinas baixas, onde a areia fina atrapalhava quem conduzia. Lembro-me de ter pensado que estava num sítio onde todos os lugares da Terra estavam representados.