Passeio pelos Miradouros de Lisboa

04-02-2022

No domingo passado, depois de ter cumprido o dever cívico, juntei-me a um grupo de amigos para um fantástico passeio a pé, subindo e descendo as colinas de Lisboa, para ir conhecer (ou revisitar) alguns dos melhores miradouros de Lisboa.

A tarde tinha tudo a nosso favor: sol, céu azul, temperatura amena, pessoal animado e cheio de vontade de conviver, e um "guia" que tratava o percurso por tu e nos alertava para o que não podíamos deixar de ver.

O ponto de encontro deu-se no Largo do Chafariz de Dentro, mesmo em frente ao Museu do Fado e as ruas estreitas e as escadinhas de Alfama deram-nos as boas-vindas logo para começar.

A primeira paragem, breve, foi no Miradouro de Santo Estevão, ao lado da igreja homónima. A vista para o rio e para o novo e moderno Terminal de Cruzeiros contrastava com as ruelas e os telhados antigos de Alfama.

Dali até ao Panteão Nacional a subida não abrandou, mas esperava-nos uma vista única no Miradouro do Jardim Botto Machado, no Campo de Santa Clara, mesmo atrás do Panteão. Também parámos para admirar o enorme mural de azulejos de André Saraiva que representa a cidade de Lisboa, e que circunda o jardim.

O miradouro que se seguia era o da Senhora do Monte, mas pelo caminho passámos pela Escola Secundária Gil Vicente que me chamou particularmente a atenção: está toda pintada de lilás! De certeza que os alunos que lá andam são mais felizes.

O Miradouro da Senhora do Monte fica lá bem no alto e oferece-nos uma vista panorâmica sobre Lisboa. É um bocado estafante lá chegar a pé, mas vale bem a pena.

Na descida para o Miradouro da Graça, passámos pelo mural "O Mundo de Sophia", de Jorge Romão, que se inspirou no universo poético de Sophia de Mello Breyner. De seguida, visitámos o Jardim da Cerca da Graça que tem um grande relvado onde apetece ficar deitado, a ler ou a descansar, em dias bonitos como no domingo.

A passagem do jardim para o miradouro está fechada neste momento, por causa das obras de melhoria em curso, e assim tivemos de ir à volta; não sem antes irmos dar a um parque de estacionamento sem saída, o que nos obrigou a saltar um muro. Peripécias que deram (ainda) mais animação ao passeio.

O Miradouro da Graça agora chama-se Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, em homenagem à poetisa, que está sepultada no Panteão Nacional e que é mãe do escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares e avó do maestro Martim Sousa Tavares. No miradouro há um busto de Sophia em bronze, mas como metade da área está fechada com as obras, recomendo que deixem a vossa visita para quando estas acabarem.

A etapa seguinte era sempre a descer e levou-nos até ao desafogado Miradouro das Portas do Sol e ao romântico Miradouro de Santa Luzia, que ficam ao lado um do outro, separados pela Igreja de Santa Luzia. Daqui, a vista deslumbrante volta-se novamente para o rio.

Antes, tínhamos passado pela "Calçada da Amália", a obra de Vhils que homenageia a fadista em calçada portuguesa e onde, quando está a chover, a água desliza como se Amália estivesse a "fazer chorar as pedras da calçada".

Novamente a subir, desta vez a encosta do castelo, chegámos ao Miradouro do Recolhimento, um pequeno e escondido miradouro que fica no fim de um sossegado jardim. Não entrámos no Castelo porque só é gratuito para os residentes de Lisboa e nem todos os do grupo moram cá, mas vimos a vista de Alfama a partir daqui.

No entanto, se só tiverem tempo para visitar um miradouro, recomendo vivamente o do Castelo de São Jorge. Fica na colina mais alta de Lisboa e oferece a vista mais completa da cidade.

Voltando às descidas, passámos à porta do Chapitô e continuámos até ao Miradouro do Chão do Loureiro onde estava um artista de rua a tocar guitarra. Este miradouro é na verdade um terraço com vista para a Baixa, que fica no topo de um parque de estacionamento da EMEL.

O mais inesperado foi entrarmos depois no parque de estacionamento e observar a arte urbana que existe nas paredes. Cada andar do parque de estacionamento tem as paredes decoradas com pinturas de um artista diferente. Não desçam no elevador para não perderem esta galeria de arte tão original.

Onde também há uma pintura gira é na fachada de um prédio no Largo da Achada, por onde passámos a caminho do Martim Moniz.

Por esta altura, as minhas pernas já pediam descanso, mas ainda ia ter muito caminho pela frente. Começando logo por uma mega escadaria seguida de mais umas subidas que nos levaram do Martim Moniz até ao Jardim do Torel, onde faziam, antes da pandemia, uma praia artificial no Verão ao redor do grande lago. Foi precisamente no Miradouro do Torel que pudemos assistir ao espectáculo do Sol, que mais parecia uma Lua por ter uma luz branca, a esconder-se atrás dos prédios mais altos da encosta à nossa frente. Foi um momento muito bonito.

Novamente a caminho, já com um grupo mais pequeno porque algumas pessoas tiveram de se ir embora, foi tempo de descer a rua do Elevador do Lavra, atravessar a Avenida da Liberdade e subir a rua do Elevador da Glória até ao Jardim e Miradouro de São Pedro de Alcântara.

Estão a ver que estes elevadores urbanos foram inventados para poupar as pernas dos lisboetas e dos visitantes, mas ainda há pessoal como nós que prefere percorrer a pé estas ladeiras íngremes. Naquela altura do dia, não sei se me custou mais descer ou subir. As pernas já acusavam o cansaço, tanto num sentido como no outro.

Quase no cimo da Calçada da Glória há uma galeria de arte urbana, que pertence à GAU, onde estão expostos alguns trabalhos, de forma temporária e rotativa, para dar visibilidade aos respectivos artistas. Um dos trabalhos era todo em roxo. Tiraram-me lá uma foto, mas quase que me confundo com a paisagem.

No miradouro mais famoso do Bairro Alto, São Pedro de Alcântara, a vista para Lisboa é oposta à que tínhamos contemplado até ali. E foi engraçado perceber por onde tínhamos passado nas outras colinas da cidade.

Entretanto já era noite e as luzes citadinas já estavam acesas. Fizeram-nos assim companhia na descida do Bairro Alto até ao Calhariz, passando de seguida pelo cimo do Elevador da Bica, pelo Museu da Farmácia, até ao nosso destino final: o Miradouro de Santa Catarina, com a grande estátua do Adamastor.

Também é muito bonita a vista do Tejo à noite. Daquela zona da cidade mais junto ao rio, avistava-se a 24 de Julho, a Ponte 25 de Abril, o Cristo Rei, tudo iluminado.

Dali até ao sítio onde tínhamos deixado o carro ainda nos esperava um percurso de mais de dois quilómetros, mas depois de descermos a escadaria inicial o resto foi sempre a direito, passámos na rua cor-de-rosa, que agora tem uns guarda-chuvas coloridos suspensos, e depois seguimos sempre à beira-rio até ao Terminal de Cruzeiros.

Quando me sentei no carro, por volta das 19h, nem queria acreditar que estive a andar sem parar desde as duas e meia da tarde. Não sei quantos quilómetros percorremos, mas quase podia jurar que afinal Lisboa tem 25 colinas e que nós passámos por todas.

Foi mesmo um passeio fantástico e em muito boa companhia. Qualquer dia vou passear com eles outra vez. Depois vos conto.

Toca (Ana Teresa Narciso)