Partiu...e ficámos nós!

"Partiu… e ficámos nós!" Disse uma pessoa que conheci na Argentina, com a sabedoria e poesia índias, que se chove, quando alguém parte, é a Terra a despedir-se.
Assim foi, quando colocámos as cinzas do meu Pai na terra, choveu. Já não é o primeiro texto que escrevo sobre o meu Pai, mas faço-o porque ele foi um ótimo exemplo de quem teve muita dificuldade em se adaptar à vida de reformado.
Partiu lúcido e sem completar o seu último objetivo: chegar aos 100 anos. Festejou os 98. O último mês foi difícil para ele, começou por dizer, "é preciso é ter calma, muita calma", para dizer, possivelmente a sua última frase completa, "desta vez não vai dar".
De facto, preparar-mo-nos para a reforma é fundamental. E é disso que trata a Transições. O meu Pai viveu 28 anos após a reforma, e eu diria que demorou mais de 20 anos a adaptar-se a essa situação e a conseguir "viver a vida de forma ativa e feliz"- como dizemos na Transições.
Felizmente os últimos anos foram bons. Muito bons. Mas, e os outros 20?
Tal como a maioria da sua geração, trabalhava, trabalhava e trabalhava. Adorou o que fazia, ser médico foi o sonho bem cumprido da sua vida, na qual primou a excelência. Mas isso deixou-lhe muito pouco tempo para tudo o resto.
E os que ainda estão no mercado de trabalho hoje, como é?
Olhar para as cinzas do meu Pai fez-me pensar em algo que é, como eu costumo dizer, mais uma verdade do senhor La Palisse: e é nisto que todos nós nos tornamos!?!. Então, para quê tanta correria, tanta ansiedade, tanta busca de algo que acreditamos que é isso que nos falta para sermos felizes, quando nem olhámos para o que estava no momento, ao nosso alcance.
Viajei muito em trabalho, por países incríveis, mas, na altura, conheci o aeroporto, o hotel e o escritório. Para quê? Hoje seguramente não faria assim. Trabalharia sim, com todo o entusiasmo e gosto, mas colocaria igualmente todo o entusiasmo e gosto a gerir melhor o tempo, a dar prioridade à minha pessoa, e a desfrutar os novos lugares que ia conhecendo e as pessoas que comigo se cruzaram.
Para aqueles que ainda se identificam com esta vida meio louca que acabo de descrever, sobretudo os que ainda estão nas empresas, ou mesmo nas suas próprias empresas, estão sempre a tempo. Vejam a geração dos que têm hoje 30 anos que trabalham também com pressão e objetivos, mas não dispensam os tempos de lazer, os amigos e a familia. Será que os conseguimos acompanhar?
E bom, quando se sentir muito acelerado, pare, respire e pense: Para quê?
Teresa Marques
2 de novembro de 2025
