Mi - A dança da Vida

29-05-2021

Maria Irene, Mi para os amigos, é uma Mulher Inspiração. Nascida a 1 de Março de 1949, a Maria Irene costuma dizer "tenho 73 anos de idade e ...37 de espírito, o que me traz uma forma de encarar a vida um tanto especial...".

Quem a conhece não duvida, tem mesmo uma forma especial.

"Sou alegre, extrovertida, empenhada, determinada e gosto de dar. Dou, dou e dou. Dou sobretudo afeto, abraços, e tenho uma vontade imensa de viver a vida arriscando, pondo a minha criatividade à prova, divertindo-me, entregando-me de coração àquilo que me faz bem e raramente desistindo."

Quando a Transições se tornou pública, a 15 de Abril deste ano, a Maria Irene foi das primeiras "a chegar-se à frente".

"Tarefas para mim??!!! Temos que falar!", escrevia ela.

"Falamos sim, claro", respondi. Eu lá ia perder a oportunidade de beber daquela fonte inesgotável de ideias e de energia?

"Não sei como vai ser, já não me sobra tempo, com todas as tarefas que me surgem inesperadamente e que eu abraço com entusiasmo. Muitas vezes me tenho perguntado como é que eu tinha tempo para trabalhar antes de me reformar", diz rindo.

A dúvida durou pouco e rapidamente a Maria Irene se tornou membro da Transições.

"Achei que talvez a Transições pudesse contribuir para me fazer um bocadinho mais feliz e eu pudesse estender esse sentir a tantas pessoas que, como eu, estão neste momento em reforma permanente ou parte dela".

A transição da Maria Irene começou há já uns anos.

"Na realidade, a minha vinda para casa, a minha transição, ocorreu cedo com pré-reforma e desde aí eu não parei mais de fazer coisas. Comecei por frequentar Universidades seniores, primeiro em Algés e depois em Oeiras, e estou há cerca de 8 anos na Universidade sénior da Cruz Vermelha, na Parede, como aluna, e agora também como professora e facilitadora."

Mas parecia que não chegava...

"Apesar de ter tido ao longo destes anos bastante atividade, faltava-me qualquer coisa que me preenchesse o meu lado afetivo e que fosse para além da família e de algumas amizades... Precisava sentir, sentir tudo que me tomasse conta dos sentidos, que me provocasse entrega, energia, alegria, resgate de uma vida saudável."

Por coincidência ou não, a Biodanza surgiu inesperadamente na vida da Maria Irene em Janeiro de 2017, quando surgiram as aulas na Universidade Sénior da Cruz Vermelha.

"Não sabia o que era e pesquisar na internet não ajudou, mas se era dança devia ser giro. Afinal a dança nasceu comigo, os meus pais conheceram-se a dançar".

Aos 68 anos, a Maria Irene teve a sua primeira aula de Biodanza e a sua vida nunca mais foi a mesma.

"O que é isto? O que é que se passa aqui?"

Aquela aula não tinha nada a ver com o que conhecia de outras aulas de dança.

"Eu não fazia a mínima ideia do que poderia ser uma aula de Biodanza, mas depois de duas horas num tempo inesquecível sem duração, eu apenas me lembro de pensar que queria fazer aquilo para o resto da minha vida...

Senti que ali com todos, eu podia fazer tudo...podia amar, podia abraçar, podia chorar, podia virar-me do avesso e deixar fluir a minha alma e deixar que ela voasse livre sem nada a oprimir-me ou a dificultar-me. Estive sempre entregue, maravilhada e feliz. Dei tudo, recebi tudo, enchi-me de jovialidade, de vontade de viver a vida, aquela vida dançando com todos e com cada um, de uma forma íntegra, honesta e absoluta ... desde aí, não passei um único dia em que a Biodanza não fizesse parte integrante da minha vida.".

"A minha vida mudou enquanto dançava. Senti-me a viver ao contrário, em vez de ficar mais velha, comecei a sentir-me mais nova..."

Pouco tempo depois foi desafiada para fazer o curso de facilitadora na Escola de Biodanza.

"Vem experimentar uma aula, sem compromisso!"-disseram-lhe.

O compromisso durou 36 meses, não faltou a nenhuma aula, e hoje a Maria Irene é facilitadora de Biodanza, em supervisão.

"Fiz a escola de Biodanza e tirei o curso de facilitadora, queria partilhar o deslumbre que estava a sentir com outros. Agora estou a dar aulas a um grupinho sénior na Cruz Vermelha da Parede".

"Durante anos estive muito focada em estudar, trabalhar, criar a minha família, estive preocupada com a educação dos meus filhos..."

"...Depois da Biodanza comecei a pensar mais em mim e a despertar a minha criatividade. Comecei a escrever poesia, tenho um projeto a 4 mãos com uma amiga para escrever contos infantis e, mais recentemente, descobri uns escritos do meu pai sobre mim que me impulsionou a reescrever essa biografia. Gosto de escrever e fazer paralelos, por isso, esta minha biografia também vai ser uma viagem pelas minhas emoções. Estou empolgadíssima para escrever o que vou sentindo com o que leio do meu pai".

"Sinto-me muito jovem por dentro, não tenho medo de experienciar nada. Há uns tempos experimentei andar sobre vidro e foi uma experiência maravilhosa."

"Vidro?"

"Sim vidro! Na Turquia já tinha andado sobre brasas e não me queimei, não era agora que me ia cortar".

Pergunto "Para quê?", mais do que não tiveste medo, que eu sei que ela não tem.

"Andar sobre vidro é maravilhoso".

O objetivo é testar a resiliência, a superação, ganhar autoconfiança.

"A segurança que nos dá, a determinação, o prazer de nos superarmos...eu quero mesmo é fazer coisas destas, radicais".

Ter sonhos é bom, por isso pergunto à Maria Irene: "O que é que ainda gostavas de fazer na vida?"

"Viver mais experiências novas mas sobretudo transformar o meu coração numa dádiva, em algo maravilhoso. E aprender a não desgostar de ninguém, alargar a minha família para além dos limites do sangue, praticar de corpo e alma o conceito do amor universal."

Se há alguém que saiba "dançar a vida", essa pessoa é a Maria Irene!