Leonor Rocha

13-03-2024

Pensando na palavra Transição, esta palavra não entrou no meu vocabulário, talvez porque, para mim, transição é inerente ao nosso percurso de vida, feito de mudanças: transitei do aconchego do lar para a pré-primária, ainda por cima, com uma língua diferente, o francês, e no lado oposto da cidade (que grande era a cidade, vista pelos meus olhos de 5 anos!); depois transitei para a 2ª classe, numa escola primária pública, mesmo à porta de casa, onde percebi que as pessoas não viviam todas como a nossa família vivia. Até aí, nem sabia o que eram frieiras, nem meninos e meninas com 14 anos ainda a frequentar a primária; como a maioria de nós, fiz o percurso escolar previsto, com transição entre colégio particular e liceu público, até à transição para a universidade. Dei por mim na Faculdade de Ciências, na Rua da Escola Politécnica, um verdadeiro terror. A seguir, ainda mudei de curso, para 5 anos de estudos, numa área que não me dizia nada, mas para a qual havia muito trabalho. Eu queria ser psicóloga e acabei em gestão. Veio a seguir a transição para a vida profissional, à séria, apesar de ter trabalhado sempre, desde que saí do liceu.

Por ironia, Transição foi uma palavra que eu muito usei na minha vida profissional, pois trabalhei em muitas, para o arranque dos novos projetos.

Depois veio a transição para casa própria, 3 anos a viver no Algarve, a transição para a vida de casada. E, a seguir aconteceu a mais maravilhosa de todas as transições, a transição para a maternidade (ainda hoje me sinto em transição).

Muitos anos depois, eis que entro, de novo, em transição, mas, desta vez, sem ter sido tida nem achada nessa situação: deixei de trabalhar, ao fim de 45 anos. Foi uma revolução! Desafios bem diferentes de todos os que já havia enfrentado.

Constato, ao fim de 3 anos, que esta transição para a reforma, vai ser como a da maternidade, para o resto da vida!

Agora sim, uso muito a palavra Transições, pois faz parte do meu dia a dia.

A Transições tirou-me progressivamente do estado de choque inicial do "E agora?"

Encontrei na Transições um espaço que me abriu novos horizontes, conheci pessoas, muito diferentes umas das outras, mas com um grande espírito de partilha. Envolvi-me em várias atividades, com pintores, poetas, leitores, que me tinham faltado durante demasiado tempo. A Transições é um espaço de crescimento e solidariedade a que me apraz pertencer. Bem hajam todos aqueles com quem trabalho, no dia a dia, para consolidar esta valiosa organização.

Leonor Rocha

13 de Março de 2024