Férias: Do stress à calma

18-08-2021

O período de férias é habitualmente aguardado com entusiasmo (e até alguma ansiedade) pela grande maioria das pessoas. Sentimos que finalmente teremos oportunidade de parar, ter tempo para nós e para quem gostamos, desfrutar de ambientes mais calmos e relaxados, esquecer o trabalho por alguns momentos, dedicar tempo ao de que gostamos (ler, nadar, descansar, conviver..) e até eventualmente iniciar algumas atividades que planeámos para momentos mais calmos (fazer exercício, meditação, organizar a casa...). Em suma, as férias habitualmente criam uma expectativa de deixar um pouco o stresse e criar momentos de maior relaxamento, descanso e calma.

Acredito também que a grande maioria de nós já entendeu que esse processo não é fácil. Para muitos, as férias trazem outro tipo de desafios (crianças em casa, contacto com familiares ou com ambientes que nos causam ansiedade, organização de viagens, desafios financeiros, impossibilidade de conciliação de férias familiares, entre outros...). Mesmo para os que conseguem um contexto de férias mais propício e agradável, não é fácil de um momento para o outro "desligar" do trabalho, das preocupações e simplesmente desfrutar.

Não há uma solução milagrosa. Conseguir parar e desfrutar de cada momento com presença e maior consciência é algo que se cultiva e se treina não só nas férias. Mas sem dúvida que podem constituir uma oportunidade de o fazer de forma mais intencional.

Deixo-vos algumas dicas da minha experiência pessoal (que na verdade continuam a constituir um desafio para mim, mas que sinto que têm ajudado!):

Cria uma intenção: alterar rotinas ou criar novos hábitos não é habitualmente tarefa fácil e voltamos rapidamente aos nossos padrões. Criar uma intenção (neste caso para as minhas férias) ajuda-me a sair do piloto automático e a criar tempo e espaço para o que considero importante e prioritário. A intenção (que deve ser de bem!) deve estar sempre mais relacionada contigo e com o modo como reages do que propriamente com expectativas em relação aos outros. E pode ser diferente para cada um: cuidar de mim, conectar-me mais com os outros, ter momentos de serenidade, evitar ambientes tóxicos, ganhar mais energia... Podes escrever a tua intenção em algum local onde a possas rever facilmente e assim pode servir de "farol" para estes dias;

Desconecta-te do trabalho e da tecnologia: pode ser mais fácil para uns do que para outros, dependendo do seu trabalho e/ou função, mas é sempre possível (e fundamental) fazer algo. Se puderes evita ligações com o trabalho ou estabelece limites para ti (e comunica-os aos outros), como por exemplo encaminhando previamente os assuntos para outro colega que te substitua, verificando o e-mail apenas uma vez por semana ou respondendo apenas a mensagens ou e-mails que indiquem "urgência". Aproveita estes dias também para criar mais conexão humana e menos tecnológica estabelecendo também limites no contacto com a tecnologia, televisão e com as redes sociais. Podes convidar os que estão contigo para fazerem o mesmo, mas não desistas do teu propósito mesmo que os outros não o façam;

Reserva tempo para ti e para o autocuidado: Reflete sobre o que te dá energia e te faz sentir bem (com a ajuda de um exercício de journaling por exemplo) e integra isso no teu dia a dia (confesso que às vezes tenho mesmo que colocar na agenda!). Pode ser ir beber um café com um amigo, dormir mais horas, fazer uma caminhada, distribuir tarefas, ir à praia sozinho, ouvir música, o que for. Pode ser um dia inteiro ou 15 minutos do teu dia... começa do modo como conseguires. Se não estivermos bem, não estaremos bem com os outros;

Agradece: todos temos desafios e contratempos e o período de férias pode facilmente despertar alguns. Praticar conscientemente a gratidão (através de uma meditação ou escrevendo 3 coisas pelas quais estás grato em cada dia, por exemplo) é um modo de cultivares resiliência e de te sentires melhor;

Medita: em postura de lótus, sentado numa cadeira ou a caminhar; com a ajuda de um áudio de meditação guiada ou em puro silêncio; durante 5 minutos ou 40.... Dá-te tempo e espaço para te sentires. Seja como for que estiveres. Com curiosidade, amabilidade e sem julgamento;

Cultiva a presença: utiliza todas as oportunidades que o dia te oferece para praticares mindfulness de forma integrada. Sente o teu corpo e todas as suas sensações quando mergulhas na água fresca do mar ou do rio ou quando sais dela e sentes o calor na pele; utiliza todos os teus sentidos ao saborear a fatia de melancia ou a bola de berlim; escuta de forma atenta e presente a pessoa que contigo conversa; aprecia a beleza do teu filho a dormir ou a da mão enrugada da tua mãe; deslumbra-te com o cheiro dos pinheiros ou com o som das ondas do mar...;

Deixa fluir: coloca intenção, mas larga expectativas (e para as férias habitualmente criamos muitas)! O dia a dia já é feito de muito planeamento, de exigências, de "to do list" e de culpa por não fazermos o que achamos que temos que fazer. Parar, respirar e lembrares a tua intenção, já pode transformar a experiência de cada momento. Como dizia o mestre Zen Suzuki Roshi: "O mais importante é lembrar o que é mais importante."

Vanda Sousa

Fotografia de Jorge Gonçalves Silva