Eu & os livros
O primeiro livro que recordo de ter recebido foi um livro da Anita, no meu 6º aniversário, a mamã fez-me uma festinha num café que havia na Av. Pascoal de Melo, com 4 colegas de classe, ficou-me registado na memória pois a coleguinha de classe que mo ofereceu estava a folhear o livro e mascava uma daquelas míticas pastilhas elásticas "gorila", heis senão quando faz um balão e quando este rebenta foi aterrar entre 2 páginas que ficaram bem coladinhas.
Depois disso fui recebendo no Natal ou no aniversario os inesquecíveis livros da Anita.
Comecei a ler com gosto já era mulher feita, aquele ler de paixão, de virar as páginas sofregamente ou ler muito lentamente quando o livro estava quase a terminar por não me querer despedir dele. As despedidas doem e, durante uns dias não me permito começar outro livro, isso seria como se tivesse traído aquele personagem de quem acabei de me separar.
Durante alguns anos a leitura foi a minha companhia diária no trajeto para o trabalho, tinha necessidade de dar sentido aquelas horas "perdidas" nos transportes. Tive quedas aparatosas pelas escadas do metro, isto porque a leitura estava tão gostosa, que nem mesmo para descer as escadas deixava de ler. Claro que tinha que acontecer e, pum catrapum, mas devo dizer que caía com estilo, pois nem mesmo quando estava a ser levantada do chão largava a leitura. Enfim as coisas que fazemos quando estamos apaixonadas por um personagem.
A leitura é um modo de escapar à minha realidade e entrar numa outra, uma "realidade" que encontro somente nos livros, entro por ruas desconhecidas e, encontro vidas diferentes, personagens que me cativam, entro na pele deles, sofro com eles e rio com eles.
Os meus sentidos são exaltados, sinto o cheiro das tintas do livro de Tracy Chevalier em "A Rapariga com Brincos de Pérola". Sinto o cheiro da cebola da cozinha de Tita do livro de Laura Esquivel em "Como Água para Chocolate". Sinto a vitória de mulheres que desafiam "o que deve ser" e enveredam pelo que querem que seja como Anna no livro de Francesca Giannone em "A Carteira". Posso chorar com Violette no livro de Valérie Perrin em "A Breve Vida das Flores", e posso, lutar e rir ao mesmo tempo que ela pois nunca deixarei de acreditar na felicidade tal como esta pequena grande mulher o faz tão bem..
Posso ser a personagem que quero e viver a aventura lado a lado com o personagem que me cativou naquele livro.
A leitura é como um bom creme anti-rugas, tonifica diversas áreas do cérebro.
Um abraço doce
Eunice Esteves, agosto 2024