Desafio Escondido II - Afinal é possível!
No meu primeiro artigo, escrito em Setembro, a que chamei "Desafio Escondido", falava de alguém que aos 94 anos estava completamente deprimido e que tinha desistido da vida. Praticamente não comia, praticamente não falava, e passava os dias sentado à espera que o tempo passasse. Não queria ver outros, nem televisão, nem nada. Não queria nada!
Esse alguém, o meu Pai, deve ter sonhado que eu escrevi sobre ele (a verdade é que eu não lhe disse), pois um enorme volte face na sua vida aconteceu.
Em Outubro, o meu Pai deu uma queda. Achou que estava bem, mas o que é certo é que deixou de conseguir manter-se em pé sozinho e acabou por ficar numa cadeira de rodas. Tal como tinha previsto (há medida que foi perdendo alguma locomoção e agilidade, tornou-se uma obsessão) - "eu não te disse, cada dia vai ser pior. Agora de cadeira de rodas, amanhã na cama sem me mexer".
E sempre lhe íamos dizendo que valia a pena ver o que se passava, será que da queda teria resultado alguma fratura? Porque não conseguia andar? Deprimido, triste, na cadeira de rodas "estou preso, não posso ir a lado nenhum", aguardava o pior, e agarrou-se à crença de que iria ficar acamado.
E todos os que o rodeavam lhe iam dizendo, mas vamos ver o que se passa, pode ser que haja alguma solução, o que é preciso é mudar esse "chip" na sua cabeça. E nada! E assim se passaram três meses.
Um dia telefonou-me e disse: "sabes, faz hoje três meses que caí, estou farto disto, estou preso a esta cadeira, com dores, estou farto, quero ir fazer uma radiografia".
Faz hoje um mês que este telefonema ocorreu. Fez a radiografia, colo do fémur partido, opera-se e coloca-se uma prótese? Mas tem 94 anos... E o meu Pai determina, "opera-se e já! que já perdi muito tempo preso a esta cadeira, sem vontade para nada. Tempo perdido que há que recuperar. Quero voltar a andar".
E foi operado, e correu tudo bem, e está muito entusiasmado a dar os seus passos, por enquanto apoiado e acompanhado , "já ando!".
Qual foi o "click" que provocou a mudança, não vamos saber. O que sabemos é que na vida temos vários caminhos, e a escolha cabe-nos a nós.
Se aos 94 anos ainda se acredita que há muito para viver, está na altura de cada um de nós, com 55, 65, 75, 85...pôr a sua vida em perspetiva, agarrar-se a ela, e viver cada dia com entusiasmo renovado.
Conto-vos esta "história" da vida real, que me impressionou muitíssimo e que é uma grande lição de vida. Como eu costumo dizer "para a frente é o caminho!", e se a isto juntarmos um "Que tal foi o dia?" - e recebermos como resposta, "bom, mesmo muito bom", é uma boa forma de dizermos ao nosso corpo, que o nosso cérebro, a nossa vontade é que comandam.
Que tenham uma boa vida!
Teresa Marques
Se quiser ler o Desafio Escondido publicado em Setembro siga ao link:
Fotografia de Teresa Marques