Aristóteles e os 10 segredos da felicidade

16-06-2022

Voltei a ter o bichinho da Filosofia depois de, durante a quarentena, ter visto a série catalã "Merli".

Merli é um professor de Filosofia. Cada episódio um filósofo e uma aprendizagem ou um relembrar dos velhos conceitos aprendidos à luz dos dias de hoje.

Um dos que me impressionou foi o episódio sobre Aristóteles e a felicidade.

Impressionou-me em particular porque a felicidade é algo que o ser humano anda há séculos a tentar encontrar e Aristóteles que viveu no século IV A.C, há muito mais que 2000 anos, formulou a questão de uma forma que eu considero relevante ainda para os dias de hoje.

Quando se trata de alcançar a felicidade, a maioria das pessoas pergunta: "O que devo fazer?"

Os grandes filósofos, no entanto, perguntavam: "O que devo ser? "

Aristóteles, foi um dos filósofos mais influentes de todos os tempos, e desenvolveu um sistema baseado na virtude capaz de nos levar a alcançar a "eudaimonia", o estado de ser habitado por um bom daemon, um bom espírito, um estado de equilíbrio emocional e paz interior no qual a felicidade naturalmente floresce. Eudaimonia é vulgarmente traduzida como felicidade ou bem-estar.

Aristóteles pensava que a felicidade é o resultado de um modo de vida e um modo de ser, que surge quando somos capazes de desenvolver o nosso potencial como pessoa e construir um sólido "eu".

E que modo de viver é esse?

O filósofo pensava que o segredo está no equilíbrio e defendia que uma vida de abstinência, privação e repressão não leva à felicidade ou a um "eu" completo. Mas uma vida hedonista também não é o caminho, uma vez que os excessos geralmente geram uma forma de escravidão ao prazer, gerando no final um vazio existencial.

"A virtude é uma posição intermediária entre dois vícios, um por excesso e o outro por padrão", escreveu ele. E para desenvolver a virtude, devemos simplesmente aproveitar todas as oportunidades que surgem, uma vez que não se trata de conceitos teóricos, mas de atitudes, decisões e comportamentos que devem guiar as nossas vidas.

Incrível não é ? Este velhinho de barbas tinha pinta!

Então quais são as 10 virtudes aristotélicas para alcançar a eudaimonia, ou a felicidade?

1. Elegibilidade. É a capacidade de controlar os nossos comportamentos e reações às coisas que nos acontecem. Devemos controlar os nossos sentimentos negativos, mas não os negligenciar, quando tiverem razão de existir.

2. Força. É o ponto intermédio entre a cobardia e a imprudência. A pessoa forte é aquela que enfrenta perigos mas está ciente dos riscos e toma as necessárias precauções. Não corre riscos desnecessários, mas também não os evita porque são necessários ao seu crescimento.

3. Tolerância. É o equilíbrio entre o excesso de indulgência e intransigência. Aristóteles pensava que é importante perdoar, mas sem cair no extremo de deixar passar tudo, deixando que os outros atropelem os nossos direitos ou deliberadamente nos magoem. Tão negativo é ser extremamente tolerante como extremamente intolerante.

4. Generosidade. É o ponto intermediário entre a mesquinhez e a prodigalidade. É a habilidade de ajudar as pessoas que estão ao nosso redor com tudo o que nos for possível, mas com consciência, para não nos perdermos de nós mesmos no caminho.

5. Modéstia. É a virtude que existe entre a falta de reconhecimento pessoal e o ego exagerado que nos faz pensar que somos o centro do universo. Trata-se de reconhecer os nossos erros e virtudes, assumindo as responsabilidades que nos correspondem.

6. Veracidade. É a virtude da honestidade, que Aristóteles coloca num ponto entre a mentira habitual e a falta de tato para dizer a verdade. Trata-se de medir as nossas palavras e o seu alcance antes de proferi-las e dizer apenas o que é necessário quando necessário.

7. Graça. É o ponto de equilíbrio entre o excesso de brincadeira e a hostilidade exagerada. Precisamos equilibrar a graça, para que as pessoas ao nosso redor apreciem a nossa companhia.

8. Sociabilidade. Muito antes de os neurocientistas descobrirem que temos que escolher as pessoas com quem convivemos porque o nosso cérebros e atitudes acabarão por se assemelhar (diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és) já Aristóteles advertia para o perigo da excessiva sociabilidade bem como a da incapacidade de fazer amigos. O filósofo acreditava que deveríamos escolher os nossos amigos com cuidado e depois cultivar esses relacionamentos.

9. Decoro. É o ponto médio entre ser muito tímido e a falta de vergonha. A pessoa que conserva esta virtude respeita-se a si mesma e aos seus limites e sabe que os seus erros não a definem. Igualmente sabem que não devem tentar passar por cima de ninguém, e que todos devem ser respeitados.

10, Justiça. É a virtude de lidar de forma justa com os outros, a meio caminho entre o egoísmo e o total desinteresse. Consiste em levar em conta tanto as necessidades dos outros quanto as próprias, para encontrar o meio termo que nos permita tomar decisões mais justas para todos.

Interessante como tudo isto se liga a tanta coisa, tenho vindo a pensar e a escrever, como peças de um puzzle que se começa a encaixar.

Um das perguntas que Merli faz aos seus alunos depois de lhes explicar Aristóteles e que lhes deixa como trabalho de casa, é:

"Se Aristóteles vivesse nesta era tinha ou não perfil de Facebook?"

Ahah, não vos vou dar a resposta, só uma dica simples.

Aristóteles fundamenta a tese de que "o homem é um animal social" dizendo que a união entre os homens é natural, porque o homem é um ser naturalmente carente, que necessita de coisas e de outras pessoas para alcançar a sua plenitude. A sociabilidade faz parte da natureza humana.

Pensem um bocadinho e se não aguentarem vejam o episódio!

Hélia Jorge