Aprender sempre

Os primeiros vinte e cinco anos da nossa vida são um intenso processo de aprendizagem assumida que passa pela nossa infância e juventude, pela nossa formação escolar e académica até à entrada no mercado de trabalho.

Aí chegados, a tentação é para refrear a ideia de aprendizagem, deixando-a para ações de formação específicas, uma ou outra pós-graduação, uma conferência internacional que se assiste, um livro técnico que se lê. Crê-se erroneamente que temos pouco a aprender com os outros e pouco a aprender em matérias que não são da nossa vocação ou formação originária. Claro que gostamos de ver um documentário ou outro sobre algum tema diferenciado ou ver uma revista ou artigo de jornal sobre alguma curiosidade científica, mas dificilmente saímos da nossa zona de conforto, do nosso saber tradicional. Inconscientemente recusamos outros saberes pelo simples e absurdo facto de que desconhecemos e de que não queremos ser confrontados com o nosso não saber.

O saber é algo que sempre me fascinou tal como a capacidade do nosso cérebro para o apreender. Não há nenhum conhecimento que não sejamos capazes de apreender. Poderá levar mais tempo, muito mais mesmo do que outros que tenham saberes anteriores sobre a matéria, mas se quisermos, lá chegaremos. Ora essa curiosidade pelo nosso não saber, mantem-nos vivos e ao nosso cérebro ativo desde que assim o desejarmos. E é bom que a nossa curiosidade seja o mais diversificada possível. É fácil ter um hobby mas já é perigoso se esse hobby tomar todo o nosso tempo e ocupar a disponibilidade do nosso cérebro. Acredito firmemente que o nosso cérebro é quem comanda a nossa vida e todo o nosso corpo. Conhecemos muito pouco dele e usamos uma ínfima parte da sua real capacidade e até o que conhecemos dele, são representações que nos são fornecidas por ele próprio, ideias, sensações, perceções, o que na verdade e por esse motivo, não nos dá sequer qualquer certeza da sua autenticidade.

Podemos, pois, exercitar o cérebro diariamente como exercitamos o corpo, através desde logo da meditação, da imaginação, da retenção memorial e da sua evocação ou genericamente do estudo.

O estudo ou a aprendizagem como se queira, contínuas, reconduz-nos também à humildade do não saber, junto de outro que sabe mais do que nós, seja a modelar barro, seja a podar árvores, seja a tocar guitarra, seja a pintar. E há tantos e tão variados saberes.

A um ano da transição para a reforma comecei aproveitando o teletrabalho e a pandemia, a preparar-me para aproveitar o tempo para aprender mais. Para exercitar o cérebro com coisas novas que me desafiem, algumas que sempre gostei de aprender, outras que não sei o que serão, mas que decerto me irão surpreender. Recomecei a pintar a óleo, comprei a guitarra portuguesa para as primeiras lições, retomei algumas leituras de filósofos e escritores que me marcaram por uma leitura ocasional e que não tive tempo de aprofundar e que agora é tempo, é sempre tempo de aprender com eles.

E precisamos de tempo para ouvir. Conforme avançamos na idade temos a irreprimível tentação de falar, falar muito, talvez porque tenhamos vivido bastante e tenhamos muita história para contar, mas falta-nos todavia tempo para ouvir. Ora quando falamos não ouvimos e é a ouvir que se aprende, não a falar.

Oh como vai longe o pensamento e o propósito de aprender...

Este cérebro não nos larga nem nos dá descanso.

E ainda bem.

José Lopes de Araújo