Amigos do Peito

03-11-2021


Quando éramos jovens e queríamos conhecer melhor alguém, era frequente o pedido: - Podias apresentar-me à tua amiga, à tua prima, ou a fulano de tal.

Dessas interações poderia surgir um relacionamento fruste ou duradoiro. Porém, "amigos" só chamávamos a alguns.

Com o advento da internet, do Google e do Facebook, as redes de relações interpessoais alargaram-se de forma substantiva e o número de "amigos" multiplicou-se exponencialmente.

Agora essas relações já não são intermediadas por terceiras pessoas, mas pelos sistemas instalados. São eles que permitem e facilitam a interação.

Ou seja, a intermediação passou do pessoal ao digital. Cresceu, multiplicou-se, mas desumanizou-se

Mais ainda, pode criar-se a sensação de que de facto podemos contar com aquelas pessoas quando, de facto, isso está longe de ser garantido. Esses "amigos" até que ponto são nossos amigos?

De entre estes, ainda teremos os amigos chegados (do peito) e os outros. Já pensou em contá-los ? a uns e a outros ?

Na caminhada recente que fiz a Santiago de Compostela pensei nisto e os "do peito" no meu caso, contam-se pelos dedos das mãos.

O que é que qualifica um amigo como sendo "do peito"?

É a afinidade, a disponibilidade? a solidariedade? a ajuda? ou o simples facto de estarem lá quando é preciso?Cada um saberá de si.

Como refere Mónica Amélia num poema bonito no Pensador:

São os que caminham ao nosso lado, jamais esquecidos e mesmo quando ausentes, se tornam presentes, porque estão bem dentro do peito, no nosso coração.

José Aleixo Dias (1)

(1) O autor escreve seguindo o anterior acordo ortográfico