Alive and Kicking

12-11-2022

Ou numa tradução livre: Estão vivos e recomendam-se!

No outro dia fui ver um concerto dos Deep Purple ao Campo Pequeno.

Foi um concerto INCRÍVEL!!!!

Os Deep Purple são uma banda britânica dos anos 70.

Juntamente com os Black Sabbath e os Led Zeppelin, foram os precursores do Hard Rock e do Heavy Metal moderno. A banda também incorporou nas suas músicas elementos do barroco, do psicadélico, do blues e do rock progressivo e por isso sempre se recusaram a ser conotados com um género específico.

São uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos, que marcaram a minha adolescência e o meu crescimento musical.

Perguntam-me porque vou ver uma "banda de velhos", porque vou ver uma banda onde os artistas "devem estar a cair da tripeça","vão para o palco de cadeira de rodas?","Devem desmontar-se no palco"..ouvi várias vezes estas e outras expressões de idadismo.

Em realidade, também as pensei, e receei até que ponto eu iria gostar do concerto uma vez que as nossas capacidades não são infinitas e tenho muito presente a mestria de cada um deles.

Disseram-me o mesmo quando fui ver bandas como o Jethro Tull, Pink Floyd ou, aqui mais pertinho de nós, quando vou ver o Jorge Palma. Digo, vou, porque não perco um espetáculo deste que considero uns dos melhores compositores portugueses.

Foram todos espetáculos incríveis, marcantes e de grande profissionalismo.

Sim, é verdade, os elementos originais da banda Deep Purple, Ian Gillan, Ian Paice e Roger Glover já passam dos 70 anos.

Ian Gillan tem 77 (o vocalista), Ian Paice (o baterista) tem 74 e Roger Glover (o guitarra baixo) tem 76 anos.

Os seus acompanhantes, Don Hairey, que substituiu o falecido teclista John Lord, e que foi absolutamente brilhante no concerto, tem também 74 anos. O único mais novo era o guitarrista Simon McBride, também ele absolutamente brilhante, e que tem apenas 43 anos.

Interessante como eu hoje digo que tem apenas 43 anos, seria um velho se eu fosse jovem.

Do ponto de vista musical o concerto não teve falhas, foi absolutamente irrepreensível.

O Ian Gillan não tem a mesma voz? Claro que não!

O Ian Gillan, foi a voz de Jesus Cristo no famoso musical de Andrew Loyd Weber, Jesus Christ Superstar, e um dos maiores vocalistas do mundo. De uma amplitude vocal extraordinária e uns agudos sem igual, que têm a sua apoteose na belíssima peça "Child in Time".

Os agudos já não estão lá, ele nem tentou, desviou, mas a alma com que canta é a mesma.

Uma amiga disse na brincadeira "devias tê-los trazido para a Transições".

Pois, se pudesse trazia, garanto-vos.

Porque são velhos?

Não, porque são inspiradores.


Fiquei a pensar

O que faz com que pessoas desta idade ainda andem em tour sendo que as tours são, por natureza, cansativas e desgastantes.

O que os move?

O que os mantém tão vivos em particular sabendo que estas bandas foram dadas a excessos, álcool, drogas e vidas intensas?

E fiquei-me numa palavra : PAIXÃO!

Todos eles respiram e transpiram paixão pelo que fazem.

É que o nosso corpo vai se degradando, não há como evitar. Ganhamos rugas, perdemos a mobilidade, a neuroplasticidade, ... mas a alma, essa pode ser imortal e alimenta-se da paixão que colocamos nas coisas.


Os Deep Purple estão "alive and kicking", estão vivos e recomendam-se, e nós também podemos estar.


Hélia Jorge

9/11/2022