A consciência do tempo
Há uns anos atrás, ainda a trabalhar na Tetra Pak e numa reunião de trabalho ativa e enérgica, cheia de ideias inovadoras, daquelas que nos fazem sentir verdadeiramente felizes com o que fazemos, uma das colegas recebe um telefonema. Vimos a expressão dela mudar para surpresa, dor, aflição, e perguntámos o que se passava: "A minha mãe tem estado doente, e foi agora de urgência para o hospital. O coração já está a falhar".
Consternada, imaginei a minha mãe velhota com vários episódios semelhantes vividos por mim com tanta angústia também.
Comentei: "a idade não perdoa". A minha colega respondeu-me: " pois já são mais de 50 anos ... 57 "
Naquele momento senti um baque no meu coração. Eu tinha já 51. Olhei à minha volta e consciencializei que todos tinham, pelo menos, menos 25 anos do que eu!
Senti muitas coisas. Um turbilhão. Percebi que estava mais perto de uma "transição" do que qualquer dos meus colegas naquele grupo. Não me sentia "velha", mas tinha mais tempo, mais experiência, não tinha menos vontade, ou menos entusiasmo.
Não me sentia diferente, não me sentia excluída, não me sentia sem vitalidade, sem sonhos, sem projetos, não me sentia perto do fim de nada, era mais um elemento naquela equipa, naquele grupo, e na verdade a idade era irrelevante. Afinal foi apenas um momento feliz de tomada de consciência.
Reforma. Este é um tema importante e pouco discutido na nossa sociedade.
Nem todos encaramos o passar do tempo da mesma forma, mas ele passa. Espero que quando tomamos consciência do nosso tempo que esse seja sempre um momento feliz, que nasce de dentro de nós, da nossa vontade de continuar a ser feliz, e não porque alguém nos exclui, nos segrega, nos afasta, nos discrimina.
Obrigada a todos pela iniciativa. Espero poder contribuir com o meu entusiasmo, o meu sentido crítico, e a minha experiência de vida.
Ainda bem que nasceu esta iniciativa, parabéns Teresa, obrigada Hélia pelo convite.
Vera Norte
Fotografia de Fernando Pinto