JULHO 2025 - FRANÇA

Uma viagem organizada por vários membros da Transições a Paris, permitiu-me cumprir mais um objetivo de longa data e que já estava na minha "Bucket List" há quase 40 anos.

No final da década de 80 tive um momento determinante na minha vida e que me moldou a diversos níveis, tanto pessoais como profissionais, uma vez que fui viver e estudar, através do Programa Erasmus, durante dois anos, para o norte de França, mais concretamente para a Região de Champagne.

Durante esse período estive relativamente perto do Mont Saint-Michel, mas quando somos jovens pensamos que haveremos sempre de ter outras oportunidades. Efectivamente isso confirmou-se este verão com toda a naturalidade mas muito tempo depois.

Mas valeu a pena esperar todo este tempo.

O Mont Saint-Michel fica mesmo no limite ocidental da Normandia e praticamente encostado à Bretanha, a cerca de 360km de Paris e uma viagem de carro leva cerca de 4 horas.

À volta desta ideia decidi montar um programa com passagem por diversas vilas mediavais e cidades históricas da Bretanha, passando por Vitré, Fougéres, Dinan e Saint-Malo. Locais que nos transportam no tempo, para diferentes épocas e com monumentos e património histórico muito rico.

Na Normandia incluí inúmeros locais relacionados com o Desembarque do Dia D. Para quem tiver um grande interesse neste período decisivo do fim da 2ª Guerra Mundial, como acontece com o meu filho mais novo, que me acompanhou nesta viagem, é impossível ficar indiferente a tantos Memoriais, Cemitérios, Museus, Bunkers, Baterias de Artilharia, Tanques e Carros de Combate entre muitos outros Equipamentos Militares, que vamos encontrando um pouco por todo o lado, à medida que vamos percorrendo todas as 5 Praias do Desembarque de 06 de Junho de 1944 (Utah, Omaha, Gold, Juno e Sward).

Passando esta zona da Normandia, mas mantendo-nos sempre junto à costa, somos confrontados com um súbito contraste quando, deixamos as praias onde tanto sangue foi derramado para garantir a liberdade e a segurança da Europa Ocidental nos últimos 80 anos, e recuamos mais algumas décadas para entrar na "Côte Fleurie", uma zona balnear desenvolvida essencialmente durante a "Belle Époque".

Um conjunto de pequenas vilas turísticas que se estendem por uma faixa litoral de cerca de 40km, têm o seu principal interesse nas muitas e belas mansões ou "Villas", em Cabourg, Houlgate, Deauville, Trouville e Honfleur.

Antes de rumar a Sul, passámos ainda pelas fantásticas Falésias brancas de Étretat, com os seus grandes arcos que parecem resistir à força da erosão do mar, e pelos jardins com o mesmo nome, que são uma experiência muito interessante face ao estilo neo-futurista que os caracteriza.

Já no regresso a Paris, visitámos ainda Rouen, uma cidade onde vale a pena perdermo-nos nas suas ruas estreitas intervaladas por grandes praças com imponentes monumentos, como a Catedral e a moderna Igreja de Santa Joana d'Arc, inaugurada em 1979 num estilo arquitetónico no mínimo arrojado, mas com belíssimos vitrais . Aqui, tal como em muitas das vilas visitadas na Bretanha, as casas antigas construidas com a técnica de "Pan de Bois" com as grandes vigas de madeira visíveis em todas as fachadas, muitas delas com cores quentes que nos transportam inevitavelmente para a idade Média.

Em termos de Cidades, visitámos ainda Bayeux, com um centro histórico muito bonito, onde sobressaí a sua grande Catedral, e Caen uma cidade muito afetada pela 2ª Guerra Mundial e, por isso, menos interessante, apesar de terem sobrevivido alguns dos seus mais importantes monumentos.

Numa perspectiva gastronómica é indispensável passar por Cancale, ainda na Bretanha, e ir ao seu "Marché aux Huîtres" e apreciar a qualidade e a frescura das ostras que são vendidas e consumidas ali mesmo, sobre um pequeno muro, com uma impressionante vista sobre os viveiros de ostras, que se estendem pelo mar a dentro, se tivermos a possibilidade de ir durante a maré vazia.

Outra especialidade desta região são as famosas "Moulles". Os franceses, tal como os Belgas, principalmente em Bruxelas, são especialistas a confecionar mexilhões com diversos e apurados molhos servidos em caçarolas e com uma simpática dose de batatas fritas. Nós não perdemos essa oportunidade e deliciámo-nos com diferentes receitas, deste o Mont Saint-Michel até Étretat.

A cereja no topo do bolo desta fantastica viagem foi, naturalmente, a visita ao Mont Saint-Michel.

Na realidade foram várias as visitas que fizemos. Encontrámos um alojamento em Beauvoir, uma pequena localidade a apenas 2Km do enorme parque de estacionamento que fica mesmo ao lado das "Navettes" que fazem a ligação ao Mont Saint-Michel. A alternativa é ir a pé, algo que recomendo que façam pelo menos na ida da primeira visita.

E foi isso que fizemos, são cerca de 2,5 km planos, onde cada passo nos aproxima mais desta jóia da arquitetura medieval francesa, sempre com vistas fantásticas. Os objetivos de fazermos esta primeira visita ao entardecer eram vários, primeiro fugir às multidões de turistas que invadem o Mont Saint-Michel durante o dia, poder assistir com toda a tranquilidade ao pôr-do-sol sobre este monumento icónico e finalmente ir visitar as suas pitorescas ruas já durante a noite com o privilégio de as termos praticamente só para nós.

Uma das grandes vantagens de fazer férias no norte da Europa no fim de Junho ou início de Julho, como foi o nosso caso, é que o entardecer se prolonga até depois das 22h, o que nos deu tempo para jantar num dos restaurantes que existem em La Caserne junto ao estacionamento e onde começámos a caminhar. O regresso foi feito na "Navette" já depois de 23h.

A noite foi curta, pois aplicámos a mesma receita de véspera. Para evitar multidões, às 7h30 já estávamos novamente junto ao portão principal que nos conduziu às imensas muralhas e torres que circundam todo o casario que vai subindo em socalcos até culminar com a sua Abadia que dá forma à silhueta inconfundível do Mont Saint-Michel.

Percorrer todas as muralhas, apreciar as vistas de cada torreão, vaguear pelas diferentes ruas ligadas por muitas escadarias e subir até ao topo é um exercício considerável, mas indispensável para se poder apreciar todos os recantos de um monumento único. Asseguro que no fim, todo o esforço é largamente compensado pelo prazer e satisfação que esta experiência inesquecível nos gera.

Para visitar a Abadia, o Claustro, os Jardins e Miradouros superiores entre muitas outras salas do complexo, convém comprar bilhete antecipadamente. Esta visita é indispensável e para quem queira até pode ser feita durante a noite com espetáculo de luzes e cores, algo que não fizemos porque os nossos planos eram outros.

Outra razão para termos iniciado o dia tão cedo foi o horário das marés. Pode parecer estranho mas nesta visita há vários momentos interessantes onde, caso seja possível, convem tentar conciliar com as marés, nomeadamente com a rápida subida do nível do mar, espetáculo a que não pudemos assistir. Nesse dia o que queríamos era apanhar a maré baixa para podermos ir fazer uma caminhada nas "areias movediças".

Esta é provavelmente a atividade mais concorrida para além da visita à Abadia. Quando a maré começa a baixar o mar recua muito rapidamente e expõe durante algumas horas um extenso areal que cobre uma área enorme, com vários quilómetros quadrados e que durante esse período liga a pequena ilhota ao continente.

Há vários percursos e distâncias com durações entre 1h30h e 6h, nós optámos por um percurso de cerca de 6km e 4h de ida e volta até ao rochedo de Tombelaine, sempre acompanhados por guias certificados.

Foi fechar em grande esta visita. A possibilidade de nos afastarmos alguns quilómetros deu-nos a verdadeira prespectiva da dimensão do Mont Saint-Michel no meio daquela imensidão de areias finas ainda encharcadas e com inúmeros pequenos cursos de água que corriam para o mar lá ao longe e que tivemos de atravessar.

Caminhar nestas areias com os pés descalços, descobrir os perigos e riscos destes ambientes naturais, perceber como funcionam as areias movediças, como nos enterrarmos propositadamente e principalmente como sairmos delas foi algo novo e enriquecedor. Mas o que marca toda esta experiência são os diversos reflexos do Mont Saint-Michel que se projetam nestas areias e na fina camada de água que as cobre.

Ver o Mont Saint-Michel de tantos ângulos diferentes e poder dar a volta por fora das grandes muralhas, que se enterram nesta mesma areia que pisamos, é uma visão única e que ficará para sempre gravada na memória.

Finalizo com um grande Agradecimento à Graça Raposo que, no decorrer do planeamento desta incrível viagem, me deu inúmeras dicas e conselhos que enriqueceram e facilitaram muito a montagem e realização deste programa pela Bretanha e Normandia.

Rodrigo Nascimento
Julho 2025