António Subtil
O que é ser Escritor?
O que é ser escritor? Isso queria eu saber. Mas tenho uma opinião.
Foi-me lançado este desafio. É com enorme prazer que aceito e deixo aqui a minha ideia sobre o assunto (com base na minha pouca experiência).
Assim, de chofre:
Eu diria que são escritores aqueles que gostam
de ler e de escrever e adoram o sentimento de realização que é lerem várias
vezes o que escreveram, donde resultam sempre novos pormenores a introduzir na
obra. O resto é conversa.
Poder-se-á perguntar:
- Mas então como se sabe se o livro é bom? Por
acaso na livraria até me disseram que não se tem vendido.
A resposta será mais ou menos esta:
- Para o autor é bom, senão não o estaria a
ler. A fileira dos livros está hoje em profunda transformação. Sabe como foi
publicado e promovido? Sabe que as editoras já não são editoras? Já não
avaliam, não promovem e, muitas vezes, nem sequer sabem o conteúdo do que
publicam; limitam-se a ser intermediárias das gráficas e o autor (o dito
escritor) é que tem de tratar de tudo, suportando todos os custos. Há muitos
livros que nem sequer são distribuídos e promovidos por vontade do autor ou por
outras razões. Em 2023 foram registados em Portugal 22.611 novos títulos. A
breve prazo, o escritor mandará imprimir os livros à medida que lhe são
encomendados, pois tendo o ficheiro para impressão digital, em poucas horas
terá o livro impresso, tornando custos fixos em variáveis. As livrarias
deixarão de existir para obras de pequena tiragem e o
escritor/editor/paginador/promotor/vendedor terá um site onde venderá os seus
livros.
A qualidade do produto passará para o mercado assim afunilado, e em pouco tempo ficará definida a qualidade deste profissional dos livros – o escritor.
Resumindo, poderá ser escritor aquele que por alguma razão se convenceu que escreve bem, aquele que gosta imenso de falar de si próprio e de outras pessoas e só faz biografias, aquele que escreve de forma muita articulada, com todos os esses e erres, aquele que conta muito bem histórias, ainda que inventadas, mas que toda a gente gosta de ler. O que interessa é se o livro foi ou não "gostado" por muitos.
Como fui sendo "mordido" pelo bicho
Quando frequentava o 8º ano do Liceu, em Luanda, o professor de português mandou-nos fazer um texto com base num conto que metia barba, bigodes, peras e outros alimentos. Quase sem querer, fiz uma brincadeira com palavras homónimas que foi um grande sucesso. Foi para mim uma grande surpresa o burburinho que aquilo causou.
No ano seguinte fui um dos fundadores do "ECO", o jornal do liceu, experiência muito interessante, onde percebi que gostava mesmo de escrever.
Mais tarde, em Portugal, escrevi alguns artigos para uma revista cultural. Quando era preciso escrever nas empresas em que trabalhava, "sobrava" sempre para mim, fossem projectos de empresas, fossem newsletters ou outros documentos de responsabilidade. Acontecia-me sempre ter muita vontade de ler o que escrevia várias vezes, até ficar convencido que estava bem. Tudo isto foi constituído em nota para o futuro.
A Ponte do Rio Seco
Em fevereiro de 2021, desembarquei com a família no Porto para passar uns dias em Portugal. Residíamos nessa altura em Luanda desde 2008. Passados dois ou três dias ficámos em casa sem sair durante seis meses, por força do confinamento obrigatório. Através da televisão, assisti ao início das maiores mudanças de comportamento social em termos globais. A humanidade lutava pela sua sobrevivência, combatendo o vírus COVID 19. O confinamento era total e ninguém sabia quando iria terminar. A vida passou a ser uma grande incógnita; no meu caso, ditou o fim da minha vida profissional.
Decidi nessa altura pôr mãos nos assuntos que estavam nas notas para a reforma: decidi escrever um livro. Não tive muitas dúvidas sobre o que escreveria. Várias vezes tinha pensado na possibilidade de dar a conhecer a realidade do que foi o fim da Angola portuguesa e o princípio da Angola independente.
Depois de magicar durante algumas semanas, iniciei a primeira parte do livro caracterizando para o leitor a forma como se viveram em Angola os últimos anos antes da independência, principalmente em Luanda. Para isso, relatei os anos decorridos durante a minha adolescência, entre 70 e 75, procurando mostrar as alterações que foram sendo implementadas e que levaram às mais importantes mudanças que Angola viveu até à sua independência, sob os trágicos efeitos de uma guerra civil que começou mal os diversos movimentos de libertação se instalaram nas cidades.
A segunda parte corresponde aos primeiros cinco anos da Angola independente. Utilizei para o efeito a mesma metodologia, recorrendo ao meu dia a dia. Mas nesta parte do livro, assume uma grande importância o relevo que é dado à intervenção dos jovens luso-angolanos, que participaram na criação do novo país. Maioritariamente estudantes do ensino superior, oriundos da classe média das cidades, foram solicitados a participar activamente nos trabalhos de grande responsabilidade na construção e implementação da nova ordem, acabando por ser adultos à força, por via das responsabilidades que tiveram de assumir nas diversas instituições do novo país.
Tinha a convicção que era necessário contar o que nunca se contou.
Fiz um contrato com uma editora que, de forma irresponsável, nunca cumpriu a sua parte respeitante à divulgação e promoção do livro no mercado e que por isso é, hoje, praticamente desconhecido do grande público. Contrariamente ao estipulado, nunca vi o livro em qualquer prateleira de qualquer livraria. Só pela internet é possível adquirir um exemplar da obra, mas nem a isso é dada qualquer publicidade. Conto isto para ilustrar o que já referi acima.
Aproveitei estes dois últimos anos para adquirir certezas sobre a oportunidade de fazer divulgação do livro, Distribuí exemplares por amigos e familiares e tenho para mim que o lançamento da obra tem de ser feito, bem como a divulgação necessária ao conhecimento geral de "A Ponte do Rio Seco".
António Subtil
20 de setembro de 2024
Para adquirir "A Ponte do Rio Seco": https://www.atlanticbookshop.pt/ficcao/a-ponte-do-rio-seco
Sugestões de
leitura:
Curso de
Escrita Criativa – autor: Pedro Sena-Lino
Guia Prático de
Escrita de Ficção – autor: Mário de Carvalho
Como Escrever –
autor: Miguel Esteves Cardoso