Regresso - Dulce Borges

28-05-2022

"A Faina da Pesca" de Ana Paula Costa e Silva 

Ai, como eu gostava de passar a temporada de férias de Verão na casa dos avós maternos, na pitoresca aldeia de Valeirinha.

Eram sempre dias plenos de doçura. Para além dos mimos físicos, usufruía das belas paparocas feitas pela avó Maria e das palestras do avô Carlos. Colhia os frutos diretamente das árvores e adorava ajudar nos trabalhos do campo. Os diferentes cheiros inundavam o espaço e parece-me que ainda hoje os sinto quando vou de visita aos tios que agora habitam a casa.

O avô Carlos era muito conversador e gostava, como todos os avós, eu acho, de partilhar as suas vivências comigo. Tudo o que eu aprendi com ele ficou para sempre na minha memória.

Era um homem muito bondoso, respeitador e com muitos amigos espalhados pela aldeia e arredores.

Eu bebia as palavras do avô e ele, com tanto detalhe, conseguia transportar-me até à sua época de menino.

- Olá Ti Carlos, a saúde vai boa?

- Ora se vai. Cá com o meu neto passam-me todas as mazelas.

E riam.

- Que tal a pescaria?

- Correu bem, sim senhor. Olhe lá para o peixe a saltar!!! Bom, tenho de ir ajudar o pessoal na escolha. Tarda nada, estão aí as canastras da lota.

E assim era.

A abertura do saco da rede era um verdadeiro espetáculo.

A descoberta da pescaria realizada, outro.

A escolha das diversas qualidades de peixe até parecia uma tarefa fácil. Não fossem as mãos conhecedoras dos pescadores e seria trabalho para um dia.

- Francisco, vamos regressar?

- Vamos sim, avô. Quando não, a avó fica preocupada.

E lá íamos os dois, de mão dada.