Manhãs azul-cobalto - Concha Balcão Reis

28-05-2022

"Nougat" de Ana Paula Costa e Silva

Era uma noite fria de Inverno

Como são todas as noites de Natal

Regressávamos a casa

Quando nos abordaste a pedir ajuda

Teus olhos grandes suplicavam amor

Teu olhar profundo deu voz ao teu querer

Por não termos sido indiferentes à tua suplica

Recolhemos-te essa noite

Julgámos-te abandonado

Era isso que as costelas denunciavam

Sob o teu pelo desnutrido e baço

Interrompido por diversas e feias feridas

Mas o chip que transportavas contigo,

Meu querido Nougat,

Indicou que tinhas "dono"

E os procedimentos tinham de ser cumpridos

Contactado o proprietário

Vieram-te buscar

E lá foste de volta para a tua "casa"

Que mais não seria do que um parco canto no exterior

Mas tu és forte e assertivo

Sentiste o poder do amor e não o deixaste escapar

No mesmo dia que te levaram, voltaste

Sim,

De noite, 5 km percorridos, e ali estavas tu

À porta, à nossa porta, à nossa espera

Percebemos o teu sofrimento

Confrontámos os "donos"

Nada do que tinha acontecido era normal

- O que é que se passa? Perguntámos

Tudo foi explicado

A chegada de um novo membro, um bebé

Tirou o teu lugar naquela família

Do interior do lar foste corrido para o quintal

Mas, por fim, praticaram um ato de amor

Pois abriram mão de ti

Deixando-te partir e ser feliz

Passaste a viver connosco

Como se nos conhecêssemos há anos

Temos de dar tempo ao tempo

O caminho far-se-á caminhando

A pouco e pouco

Irás aprender a brincar, a socializar

A correr na praia

Continuarás a enriquecer os nossos corações

Gravando o teu amor

Como simples pegadas na areia

E esta foi a verdadeira história,

Como, num volte face profundo,

Deixaste de ser Baltasar

Para passar a ser Nougat,

O cão mais doce do mundo.