Bugio - Leonor Botto e "Quente" de Cristina Semião

Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,
aquarela viva de cor e fogo.
Deixa-se tocar, apenas levemente,
pelo frio do azul poente,
que em sua linha se quer impor indecente.
Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,
teatro de uma cena em monólogo.
Deixa-se calar, por breve instante,
pelo grito inconstante,
do mar revolto por baixo incessante
Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,
música ardente num sensual jogo.
Deixa-se bailar, na espuma revolta,
da onda desenvolta,
que só a crista soprada pelo vento a solta.
Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,
poema infinito agora em epílogo.
Pois a noite, verso de ébano,
em crescendo no oceano,
por cima de ambos irá estender seu pano.