Bugio - Leonor Botto e "Quente" de Cristina Semião

21-05-2022

Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,

aquarela viva de cor e fogo.

Deixa-se tocar, apenas levemente,

pelo frio do azul poente,

que em sua linha se quer impor indecente.

Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,

teatro de uma cena em monólogo.

Deixa-se calar, por breve instante,

pelo grito inconstante,

do mar revolto por baixo incessante

Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,

música ardente num sensual jogo.

Deixa-se bailar, na espuma revolta,

da onda desenvolta,

que só a crista soprada pelo vento a solta.

Quente é o vermelho que se espraia no horizonte,

poema infinito agora em epílogo.

Pois a noite, verso de ébano,

em crescendo no oceano,

por cima de ambos irá estender seu pano.