Poesia # 8 - Um entusiasmo sempre à mão

11-07-2023

Acordou e olhou para o relógio, já estava atrasada.

Olhou se ao espelho e viu os sinais da noite mal dormida.

Definitivamente, não podia sair assim.

Enfiou se no duche e lavou as mágoas com água quente e abundante.

Esfregou bem as dores desde os pés até à cabeça.

A cabeça era sempre a parte pior pois é onde se acumulam os passados mal resolvidos.

Saiu do banho e secou-se bem não fosse alguma lágrima se ter pegado ao corpo.

Abriu o armário e escolheu o seu vestido mais vistoso, para dar brilho e chama à existência.

Nos lábios pintou um sorriso.

Calçou umas botas de tacão grosso para poder sustentar o peso do dia que se avizinhava.

Atou um sonho ao chapéu e ajeitou-o o na cabeça.

Assim um pouco de lado como quem não quer pesar.

Ah, os chapéus com sonhos ficavam lhe mesmo a matar.

Olhou-se de novo ao espelho e sorriu satisfeita com a transformação.

Pegou nas chaves e saiu.

Já ia a descer as escadas quando se lembrou.

Voltou atrás e apanhou o entusiasmo que tinha deixado esquecido na mesa de entrada.

É que a vida é mesmo insuportável para quem não tem sempre à mão um entusiasmo.