Poesia #21 E novamente a solidão...

19-07-2023

Já me tinha desacostumado dela,

esta velha companheira,

presença quase obrigatória

nos momentos mais delicados

em minhas horas mais intensas.

Suspeitava, no íntimo,

(uma voz absurda e perplexa me dizia)

que ela não partira de vez.

Ficara apenas espreitando pela fresta

de uma porta que teimosamente continuou entreaberta,

aguardando, com a paciência dos que estão seguros,

o momento de reentrar.

Aos poucos, sem pressa, ela vai-se instalando.

Com ares de dona, reconhece o espaço,

reencontra os sons, ecos de velhas harmonias,

redescobre cores, formas e palavras

desleixadamente esquecidas num canto.

Resta-me agora (inútil tentar expulsá-la)

reaprender o seu convívio,

aturar os seus vícios e manias,

estar atento às suas artimanhas

e também desfrutar os nossos momentos de magia,

a sua calma intimidade,

seu profundo conhecimento de mim

e sua absoluta fidelidade.